Sou utente do Serviço
Nacional de Saúde, pelo que dele me sirvo quando necessito. Conheço o SNS, sei
como funciona, quais são as suas virtudes e as limitações que tem, tal como
acontece em qualquer outro país do mundo onde este tipo de serviços exista. E,
tal como António Costa, até posso reconhecer que este serviço "constitui
um dos mais virtuosos ganhos da democracia portuguesa", mesmo que não seja
o “milagre” que muitos esperariam que fosse porque não passa de um serviço
mutualista organizado pelo Estado com as prestações que, seja por qual modo
for, cobra aos cidadãos.
Sei, como todos sabemos,
que estes são dos serviços que mais pesam nas despesas do Estado e dos que
melhor se prestam às fraudes mais variadas, pelo que os seus custos atingiram
valores que levaram as suas dívidas a níveis excessivos, assim como as fraudes cometidas
custaram e custam ainda muito caro aos contribuintes.
Quanto à qualidade, não
primavam os serviços por um atendimento muito simpático que, aliás, o excesso
de procura nem, sequer, consentia. Por tudo e por nada se procuravam
assistência de um modo desorganizado, para o que a desorganização dos serviços
também contribuía.
É certo, como diz Costa, que
o PS ficou ligado à criação destes serviços, sem dúvida do mais elevado valor
social, porém criados com a leviandade própria de quem não pensa nos custos das
coisas, espera da democracia os milagres que ela não pode fazer e dos direitos constitucionais
os benefícios que eles não podem pagar. Por isso foi negligenciada a
organização que os fizesse eficientes, o controlo que os tornasse suportáveis e
a fiscalização que evitasse os inúmeros casos de desmandos e de corrupções que
aconteceram.
Passando por cima de
outras coisas às quais o mesmo PS descuidado está para sempre ligado também,
seria inevitável a reorganização que o PS nunca promoveu, assim como o controlo
financeiro que o PS tentou iniciar com as taxas moderadoras porque,
inevitavelmente, apenas poderemos ter o SNS que pagarmos, não sendo socialmente
justo que o Estado financie o SNS através das dívidas que acumula em serviços que não gere de um
modo eficaz e equilibrado.
Sempre achei patéticos os
discursos eleitoralistas onde são ditas coisas inacreditáveis como mentiras e
falsidades que enganam os menos informados, assim como fazem promessas que se
sabe não poderem ser cumpridas. Acontece assim, entre nós, há quarenta anos!
Assim se tem feito a alternância democrática pelo julgamento dos que, afinal,
com as suas promessas incumpridas nos traíram.
Mas voltando ao tema
principal, seria inevitável, em tempo de bancarrota, acontecimento inegavelmente e por mais de uma vez ligado ao PS também, que perante as dívidas enormes que os serviços acumularam
e as fraudes de que se teve conhecimento, se procedesse a uma reforma que
evitasse a falência e a consequente destruição do SNS que, apesar da evidência
destas verdades, o PS afirma ser o desígnio do actual governo!
A reorganização e o
reequilíbrio financeiro eram indispensáveis para a continuação e melhoramento do
estafado SNS, tarefa que as nossas dificuldades financeiras não consentem
acelerar demais. Infelizmente.
Fugindo à realidade, Costa
diz que este governo "Por um lado, porque introduziu mecanismos brutais de
limitação económica no acesso aos serviços, com aumentos desmesurados das taxas
moderadoras e reduções nos apoios aos doentes mais carenciados, por exemplo em
matéria de transportes. Por outro lado, porque dificulta e compromete reformas
essenciais, com destaque para a reforma dos cuidados de saúde primários, de que
a criação das Unidades de Saúde Familiares é a face mais visível, e para o
crescimento da rede de cuidados continuados".
Mais eleitoralismo do que
isto é impossível e representa o regresso às trapalhadas e às leviandades de
outrora que nos poderão conduzir, de novo, à bancarrota ou rapidamente nos
merecerão os protestos de incumprimento de promessas que o bom senso não permite
suportar e, outra vez, nos levarão à alternância que, feita deste modo, nunca será
a solução que se espera.
Sinceramente, esperava de
Costa algo diferente que não o eleitoralismo oportunista do costume. Mas por que haveria de esperar?
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