Quando Portugal mais
precisa de políticos diferentes da maioria destes que se preocupam mais com
eles do que com aqueles de cujas vidas dispõem como se fossem coisa sua, aparece
alguém que, depois de voltar costas ao partido do qual se serviu para ser
eleito deputado europeu, tem a ousadia de dizer, num país onde o salário mínimo
é inferior a 500 euros, o salário médio não chega a 800 euros e os desempregados são mais de 15% da população activa,
que “os órgãos de soberania em Portugal
são mal remunerados, a começar no Presidente da República e a acabar nos
juízes. Deveria haver essa cautela. E não há porque muitos políticos encontram
formas, por vezes ilícitas, de suprirem essa deficiência”.
É verdade que Cavaco Silva
já se referiu, um dia, a um salário que mal daria para viver. Por isso, o que
seria de esperar de alguém que considera que os 4800 euros que recebia como
bastonário da Ordem dos Advogados, mais de 4300 euros para além do que recebem
milhões de portugueses, “não permitem grandes coisas”?
Para lá deste termo de
comparação despudorado e afrontoso, pelo menos para quem não tem sequer o bastante para sobreviver,
é curiosa a justificação para o que afirma na frase lapidar que acima está
transcrita, a qual parece ser a “necessidade” que muitos políticos sentem de
encontrar formas, por vezes ilícitas, para “suprirem essa deficiência” que é a remuneração
não “digna” para a qual os que ganham muitíssimo menos contribuem.
Soa como que a uma
justificação para tanta corrupção com que a Justiça parece começar a
preocupar-se, imprópria de um advogado.
Não creio que passe em
claro esta barbaridade vinda de quem quer formar um partido para poder disputar o poder porque afronta milhões de portugueses que, ano após ano,
vêem reduzidos ou até perdidos os seus rendimentos. Mas também não creio que possamos ficar muito mais tranquilos com os planos que me parecem ser os de quem se esforça por vir a “governar” este país.
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