ACORDO ORTOGRÁFICO

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quarta-feira, 3 de setembro de 2014

O DILEMA INFERNAL

Ainda há quem, como eu, se recorde de quando nos rios a água corria límpida e era o ambiente certo para que os peixes ali vivessem e se reproduzissem. Havia até, imagine-se, concursos de pesca no Rio Alviela em cujas águas, quando se tornou o mais poluído dos rios de Portugal, nem a mais resistente das carpas conseguia viver.
Então, eram muitos os golfinhos que, naquele jeito ondulante de se deslocar, se podiam ver no estuário do Tejo onde, no início da Primavera, também cardumes de sável se juntavam para subir o rio e desovar.
Agora, no Tejo, nem golfinhos nem cardumes de sável porque degradar o Ambiente sem o qual a vida não existe foi, qual paradoxo, a contrapartida para aumentar o seu nível.
Queixavam-se as populações dos ruídos cada vez mais intensos que lhes perturbavam o sossego, dos mais e mais volumosos resíduos que lhes conspurcavam os campos, dos fumos, das poeiras e dos cheiros que tornavam pesado e de odor desagradável o ar que respiravam e lhes arruinava os pulmões.
Mas tinham estes queixumes uma resposta pronta na muito clara alternativa “poluição ou miséria” que facilmente convencia os que aspiravam a viver com mais conforto económico.
Com o tempo, algumas medidas de contenção foram tomadas, as quais, mesmo sem resolverem completamente os problemas que, aqui e ali, a poluição criava, os reduziam a níveis aparentemente satisfatórios em função dos benefícios que traziam.
Todas estas questões pontuais que pareciam de longínquos tempos, emergiram das profundezas da minha memória quando, há poucos dias, li a notícia do que voltou a suceder numa povoação mineira alentejana afectada por poeiras escuras e densas que o recomeço da extracção de minérios provoca mas que, apesar disso, as aceita como contrapartida de algum pão que lhe garante!
Estes casos localizados de troca de qualidade de vida por uns quantos patacos que permitem um pouco mais do que sobreviver, não passam, apesar da sua gravidade, de casos menores perante a amplitude actual do dilema infernal que o crescimento económico gerou. Alcançou nos nossos dias, com os terríveis problemas ambientais que dificilmente serão revertidos pelos milagres que os ambiciosos sempre esperam, uma amplitude excessiva, tornou-se de dimensão mundial e tomou uma via de agravamento continuado para a qual a Ciência, outrora salvadora, agora chama a atenção pelos gravíssimos perigos que nos vai obrigar a enfrentar. A tal ponto que o velho dilema tem, agora, uma dimensão muito maior, a de “poluição ou sobrevivência”.
Cabe à Humanidade decidi-lo.



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