Ainda há quem, como eu, se
recorde de quando nos rios a água corria límpida e era o ambiente certo para que
os peixes ali vivessem e se reproduzissem. Havia até, imagine-se, concursos de
pesca no Rio Alviela em cujas águas, quando se tornou o mais poluído dos rios de
Portugal, nem a mais resistente das carpas conseguia viver.
Então, eram muitos os
golfinhos que, naquele jeito ondulante de se deslocar, se podiam ver no
estuário do Tejo onde, no início da Primavera, também cardumes de sável se
juntavam para subir o rio e desovar.
Agora, no Tejo, nem golfinhos
nem cardumes de sável porque degradar o Ambiente sem o qual a vida não existe
foi, qual paradoxo, a contrapartida para aumentar o seu nível.
Queixavam-se as populações
dos ruídos cada vez mais intensos que lhes perturbavam o sossego, dos mais e
mais volumosos resíduos que lhes conspurcavam os campos, dos fumos, das poeiras
e dos cheiros que tornavam pesado e de odor desagradável o ar que respiravam e
lhes arruinava os pulmões.
Mas tinham estes queixumes
uma resposta pronta na muito clara alternativa “poluição ou miséria” que
facilmente convencia os que aspiravam a viver com mais conforto económico.
Com o tempo, algumas
medidas de contenção foram tomadas, as quais, mesmo sem resolverem
completamente os problemas que, aqui e ali, a poluição criava, os reduziam a
níveis aparentemente satisfatórios em função dos benefícios que traziam.
Todas estas questões pontuais
que pareciam de longínquos tempos, emergiram das profundezas da minha memória
quando, há poucos dias, li a notícia do que voltou a suceder numa povoação
mineira alentejana afectada por poeiras escuras e densas que o recomeço da
extracção de minérios provoca mas que, apesar disso, as aceita como
contrapartida de algum pão que lhe garante!
Estes casos localizados de
troca de qualidade de vida por uns quantos patacos que permitem um pouco mais
do que sobreviver, não passam, apesar da sua gravidade, de casos menores
perante a amplitude actual do dilema infernal que o crescimento económico gerou.
Alcançou nos nossos dias, com os terríveis problemas ambientais que
dificilmente serão revertidos pelos milagres que os ambiciosos sempre esperam,
uma amplitude excessiva, tornou-se de dimensão mundial e tomou uma via de agravamento
continuado para a qual a Ciência, outrora salvadora, agora chama a atenção
pelos gravíssimos perigos que nos vai obrigar a enfrentar. A tal ponto que o
velho dilema tem, agora, uma dimensão muito maior, a de “poluição ou
sobrevivência”.
Cabe à Humanidade decidi-lo.
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