(a propósito das intenções
de criação de novos partidos para mudar as coisas ou de revoluções para voltar ao ponto de partida)
Depois de quarenta anos de
uma democracia que não encontrou o rumo que lhe permitisse corresponder às
expectativas que criou, é natural o desencanto e, mesmo até, o sentimento de
revolta dos que entendem estar na hora de uma mudança que trave o caminho
perigoso que temos percorrido até esta cada vez maior insatisfação que vivemos.
Não é fácil, nunca o foi,
desbancar os poderes instalados, fundados em interesses poderosos que sempre aparecem
e se tornam a cada dia mais robustos seja o regime qual for, porque não há
ideais tão fortes que sejam capazes de controlar as ambições pessoais e de
grupo que os egoísmos sempre fazem nascer.
Perdurou tempo demais a
ilusão criada pela “Revolução dos Cravos” cujo deslumbramento lhe não permitiu aperceber-se
da realidade dos interesses que se foram instalando e dos abusos que foram
praticando, entender a perversão de ideais que aconteceu, compreender as
mudanças que tiveram lugar por todo o mundo e, por tudo isto, não se deu conta
da realidade nova que o tempo foi gerando e torna obsoletas as soluções em
outras condições encontradas.
Não será com oportunismos
nem com ingenuidades e, muito menos, com regressos ao passado que o “processo
de degradação em curso” será travado, que um novo caminho será traçado e
percorrido, porque apenas o entendimento da nova realidade permitirá o modo de
viver que ela consente.
Infelizmente, o que se
passar em Portugal, seja pelas manobras políticas de Marinho Pinto, pela
ingenuidade e voluntarismo de José Cid e seus amigos ou pelas ideias
revolucionárias de Otelo, não passará de uma insignificância num mundo
carregado de problemas que vão lançando a Humanidade no caldeirão fervente de
um conflito global do qual ninguém sairá vencedor.
A política não pode
continuar fechada sobre si própria deixando o mundo ruir à sua volta para
depois, a correr, tentar remediar os males que deixou acontecer e, até, os que
muitas vezes causou. Nem no mundo nem em Portugal onde os problemas crescem
como cogumelos venenosos que nos vão arruinando a vida.
Uma mudança é precisa. Mas
uma mudança reflectida, bem pensada.
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