Apesar de sempre ter sido
trabalhador por conta de outrem, nunca concordei com a lei da greve que permite
aos trabalhadores faze-la quando, como e pelas razões que quiserem, sem
obrigação de justificação alguma ou de uma mediação que tente conciliar as partes,
apenas lhes sendo imposto um pré-aviso que nem carece de autorização.
Naturalmente, considero a
greve um direito que confere força aos trabalhadores nos seus confrontos
legítimos com o capital mas, também, uma atitude particularmente grave pelos
efeitos adversos que pode ter sobre os próprios trabalhadores até. Por isso, considero
perigosa a falta de outras regras para além do pré-aviso e dos “serviços
mínimos” sempre tão contestados.
A greve faz sentido como
um confronto de interesses entre as partes em conflito que avaliam os custos financeiros
que dela resultam e, em conformidade, decidem entender-se ou não.
Mas o que mais
frequentemente sucede não é isso, pois são as greves em que interesses e
necessidades sociais são a moeda de troca, sendo os cidadãos comuns mais
necessitados os que mais prejuízos sofrem, sem qualquer alternativa para os
minimizar.
É o que mostra esta greve
de enfermeiros que acontece mesmo enquanto decorrem negociações e, sobretudo, quando um
surto anormal de uma doença grave retém, ainda, em cuidados intensivos dezenas
de pessoas, para além de outros cuja falta de assistência decerto muito
prejudicará ou colocará em risco.
Esta greve parece-me mais
uma necessidade de tempo de antena dos sindicalistas da profissão, próprio daquele “em bicos de pés” em que
todos andam para terem melhor visibilidade, sem grande respeito pelos
interesses comunitários.
Quando, a propósito de
justiça tanto de fala de proporcionalidade, que proporcionalidade haverá na
justiça de uma greve em que uns poucos prejudicam muitos?
E quando se trata de
exigências incumpríveis em face da muito débil situação financeira do país ou por outra razão qualquer, o
resultado sempre será o mesmo, dure a greve o que durar, sendo o prejuízo dos
que necessitam de cuidados de saúde, tanto maiores quanto mais necessitados.
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