Meteu-me
dó aquele Mário Soares que me pareceu tão pouco lúcido e muito transtornado à saída
do estabelecimento prisional de Évora onde hoje foi visitar José Sócrates.
Com
um discurso de racionalidade escassa, alterado por uma emoção excessiva que o
levou a confusões profundas, Mário Soares manifestou a ilusão de que todos os
portugueses, tal como ele, sabem que Sócrates é uma vítima inocente “desses”
que maliciosamente perseguem o homem íntegro que ele é, o primeiro-ministro
excepcional que foi, o político a quem Portugal muito deve!
Que
está ali preso injustamente em função de factos e não provas apresentadas a
qualquer tribunal (!) que o condenasse e sem, sequer, lhe permitirem manifestar
o que tivesse para dizer em sua defesa. “Malandrice e bandalheira” é o que
Soares entende ser tudo isto que levou Sócrates à prisão.
Mas,
pelo que se diz, Sócrates saberia que ia ser detido e para tal se deve ter
preparado, assim como consta terem sido longas as horas do interrogatório
que antecedeu a sua prisão preventiva.
Para
dizer tais coisas e para mandar um “recado” muito crítico ao juiz que, por “vingança”
decidiu a prisão preventiva de Sócrates, Soares invocou a sua qualidade de
jurista!
Pareceu-me
um espectáculo deplorável de quem ainda se julga o dono da verdade e da razão,
porventura aquela que o levou, um dia, a dizer que “estes senhores deviam ser
todos detidos” referindo-se aos que agora diz perseguirem Sócrates.
Obviamente,
não me compete nem posso fazer juízos apenas conhecendo o que todos conhecem,
Soares incluído, através da comunicação social. Mas o conhecimento de ter sido
Sócrates um personagem sempre ligado a “confusões” e “suspeitas” ao longo da
sua vida pública, não me causa grande surpresa que, depois de uma investigação
que me dizem ter sido conduzida por quatro magistrados e sessenta agentes da
Polícia Judiciária ao longo de meses, aconteça esta “arbitrariedade” que tanto
chocou Mário Soares que, conforme declarações que já fez, acharia justa e
adequada a detenção imediata “destes” que diz perseguirem Sócrates.
Apesar
de uma absoluta ausência de simpatia ou de reconhecimento de grandes méritos a
qualquer destes personagens, causa-me profundo pesar quer o que se passa
com Sócrates, um ex primeiro-ministro do meu país, quer esta manifestação de
decrepitude de alguém que não está a conseguir preservar uma memória adequada
às responsabilidades públicas que já teve.
Além
de tudo, já me causa autêntica repulsa o aproveitamento que a comunicação faz, a
toda a hora e sob todas as formas, deste evento infeliz, o que muita
instabilidade pode causar na frágil democracia portuguesa.
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