ACORDO ORTOGRÁFICO

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quarta-feira, 26 de novembro de 2014

OS EXCESSOS DE SOARES


Meteu-me dó aquele Mário Soares que me pareceu tão pouco lúcido e muito transtornado à saída do estabelecimento prisional de Évora onde hoje foi visitar José Sócrates.
Com um discurso de racionalidade escassa, alterado por uma emoção excessiva que o levou a confusões profundas, Mário Soares manifestou a ilusão de que todos os portugueses, tal como ele, sabem que Sócrates é uma vítima inocente “desses” que maliciosamente perseguem o homem íntegro que ele é, o primeiro-ministro excepcional que foi, o político a quem Portugal muito deve!
Que está ali preso injustamente em função de factos e não provas apresentadas a qualquer tribunal (!) que o condenasse e sem, sequer, lhe permitirem manifestar o que tivesse para dizer em sua defesa. “Malandrice e bandalheira” é o que Soares entende ser tudo isto que levou Sócrates à prisão.
Mas, pelo que se diz, Sócrates saberia que ia ser detido e para tal se deve ter preparado, assim como consta terem sido longas as horas do interrogatório que antecedeu a sua prisão preventiva.
Para dizer tais coisas e para mandar um “recado” muito crítico ao juiz que, por “vingança” decidiu a prisão preventiva de Sócrates, Soares invocou a sua qualidade de jurista!
Pareceu-me um espectáculo deplorável de quem ainda se julga o dono da verdade e da razão, porventura aquela que o levou, um dia, a dizer que “estes senhores deviam ser todos detidos” referindo-se aos que agora diz perseguirem Sócrates.
Obviamente, não me compete nem posso fazer juízos apenas conhecendo o que todos conhecem, Soares incluído, através da comunicação social. Mas o conhecimento de ter sido Sócrates um personagem sempre ligado a “confusões” e “suspeitas” ao longo da sua vida pública, não me causa grande surpresa que, depois de uma investigação que me dizem ter sido conduzida por quatro magistrados e sessenta agentes da Polícia Judiciária ao longo de meses, aconteça esta “arbitrariedade” que tanto chocou Mário Soares que, conforme declarações que já fez, acharia justa e adequada a detenção imediata “destes” que diz perseguirem Sócrates.
Apesar de uma absoluta ausência de simpatia ou de reconhecimento de grandes méritos a qualquer destes personagens, causa-me profundo pesar quer o que se passa com Sócrates, um ex primeiro-ministro do meu país, quer esta manifestação de decrepitude de alguém que não está a conseguir preservar uma memória adequada às responsabilidades públicas que já teve.
Além de tudo, já me causa autêntica repulsa o aproveitamento que a comunicação faz, a toda a hora e sob todas as formas, deste evento infeliz, o que muita instabilidade pode causar na frágil democracia portuguesa.


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