Segundo o que leio, Merkel
terá afirmado que em Portugal, devido à sua elevada taxa de desemprego, há
licenciados a mais.
Não consegui ter acesso ao
desenvolvimento das razões que levaram a Chanceler Alemã a dizer isto e até é
bem possível que o não haja, que o que ela disse tenha sido apenas aquilo que
mais não significa do que o reconhecimento de que Portugal tem demasiados
licenciados desempregados. E isso é verdade!
Seja como for, é uma
afirmação que, decerto, merece uma análise mais cuidada do que aquela feita por
Sócrates na qual diz “Isto é
completamente contrário a tudo aquilo que nos acreditamos na Europa. Está bom
de ver que o que está implícito nisto é ‘para quem é, bacalhau basta’. O que
está implícito nisto, é que lá no Sul para que é que precisam de estudar tanto
se afinal de contas o vosso destino é servir à mesa?”
Sócrates adianta, numa extrapolação
ousada do que Merkel tenha dito, que “A
ideia de que há uma desigualdade natural, que é o que se infere daqui.
Desigualdade natural em relação aos países do Norte, que esses, sim, podem
dedicar-se ao estudo e ao estudo avançado, à filosofia, às artes. Os do Sul,
basta-lhes o 12º ano e alguns conhecimentos profissionais mais aplicados. Essa
ideia é uma ideia horrível”.
Em vez destas explicações
excessivamente popularuchas e ôcas de conteúdo que soam a grito de revolta sem consequências contra
quem diz o que é uma verdade, pois até “exportamos” licenciados, um
ex-primeiro-ministro deveria ter outra explicação para um fenómeno sério que é
a enorme dificuldade que um licenciado jovem tem para encontrar emprego em
Portugal. O que seria já meio caminho andado para encontrar uma solução.
Não vale a pena negar uma
realidade que um simples olhar à volta nos revela. E se a sua denúncia, seja
por quem for, tanto assim nos incomoda, a resposta não se encontra em palavras
inflamadas de repúdio, como tantas que já ouvi, nem na negação do óbvio, mas em
fazer aquilo que parece nunca mais será feito, a reforma estrutural e um
cuidado ordenamento do território que nos permitirá um melhor aproveitamento de
todos os nossos recursos e, em função disso, uma oferta de formação adequada às oportunidades que criemos.
Portugal é, naturalmente,
um país diferente daqueles do Norte da Europa onde o sol nunca vai alto no
firmamento, onde noites longas ou infindáveis dias de penumbra são bem
diferentes do céu azul e do sol quente que, ao longo de meses, os seus naturais aqui procuram.
O mais natural será, pois, que a economia
de uns e de outros tenha por base actividades diferentes, que em Portugal haja
mais quem faça dos trabalhos próprios da hotelaria a sua ocupação em vez de serralheiros que trabalham na penumbra dos dias longos de Inverno. Será este
um exemplo entre muitos.
Por tudo isto eu diria, ao
contrário de Merkel, que Portugal prepara os seus jovens para tarefas
diferentes das que a sua actividade económica própria do país justificaria. Por isso Portugal importa
mão de obra pouco ou nada qualificada para as tarefas que dariam muito emprego a
portugueses que, devidamente qualificados, garantissem elevada qualidade do
trabalho realizado e, deste modo, o valorizassem.
Em Portugal há uma
carência enorme de formação ao nível técnico-profissional, com excesso para a
formação ao nível universitário, o que, deste modo, constitui um desperdício de
meios financeiros e humanos que não condiz com a necessidade urgente de
reorganizar a economia nem satisfaz, sequer, as suas necessidades actuais.
Talvez fosse de reformular
a questão dizendo que Portugal tem muito desemprego qualificado porque tem uma política de
formação errada.
Não podemos continuar a
aplicar os nossos recursos financeiros escassos a formar licenciados que
exportamos, sabe-se lá para fazerem o que, enquanto outras necessidades mais
prementes e até primárias não estão sequer satisfeitas.
Quanto ao que diz
Sócrates, cuja licenciatura continuo sem saber qual seja e cuja falta de argumentos é confrangedora, é apenas para
esquecer porque nada diz que se aproveite!A questão do desemprego, de licenciados ou de outros quaisquer, é uma questão muito mais complexa do que os palavreados de Sócrates podem fazer crer.
E termino com a mesma questão que me levou a começar: precisamos de muitos licenciados, seja no que for, ou de profissionais que façam, com competência, os trabalhos dos quais temos necessidade?
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