ACORDO ORTOGRÁFICO

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quarta-feira, 5 de novembro de 2014

AFINAL QUE CRISE É ESTA?


A Natureza é isto mesmo, uma constante mutação que à escala de uma vida nos parece lenta, nos dá a ideia de que as coisas sempre serão o que são agora, mas que, a uma escala à qual ainda não conseguimos mais do que ténues abordagens, ela é rápida demais para ser facilmente compreendida.
Esforçam-se os cientistas por entender como tudo começou, o que somos e como viemos aqui parar. Mas estão ainda distantes de satisfazer a sua curiosidade porque de cada vez que julgam ter uma resposta logo outras a realidade encontrada lhes coloca. Por exemplo, a confirmação da existência do bosão de Higgs que explicaria como, através dele, a energia se tornou matéria e fez nascer o Universo, longe de ser a resposta definitiva que se esperava foi o início de mais uma aventura para responder às mil questões que levantou. E o que pareceria ser o culminar da última aventura da ciência humana, a de saber como tudo começou, afinal nada mais é do que uma enorme página em branco onde tudo ainda está por escrever.
A pequena areia no fundo do mar apenas se deu conta das que estão mais próximas de si mas nem imagina, ainda, qual é a imensidão do oceano que está para além de si.
A Ciência é isto, um caminho tortuoso e sem fim, dificíl de percorrer, de encontros e de desencontros, de avanços e de recuos, de incontáveis dúvidas que tornam imperfeito e transitório o conhecimento. O importante está em constantemente o melhorar e, assim, tentar ir mais adiante no que se julga saber.
Mas sem ir tão longe nestas cogitações àcerca do que nos transcende, no reconhecimento da nossa pequenez ou na procura da nossa própria razão de ser, fiquemo-nos pela modéstia do reconhecimento de que, mesmo do que mais de perto nos rodeia, é tão escasso o nosso conhecimento que insistimos em viver o ontem sem cuidar o amanhã que, seja qual for, há-de vir, apesar da persistente e tonta ilusão de que as coisas não mudam nunca.
Depois da “ciência por encomenda” que pretendeu, inutilmente, contrariar as evidências das mudanças de que a Ciência já se dera conta para, com isso, proteger os interesses que uma passada realidade estabelecera, tornou-se inevitável reconhecer que é preciso percorrer outros caminhos, rejeitar ideias feitas e procurar as soluções que novos problemas, incluindo os que nós próprios criámos, requerem.
Passados já uns dias depois da dramática comunicação do Presidente da ONU sobre a urgentíssima necessidade de evitar a tragédia ambiental para a qual o modo como vivemos rapidamente nos encaminha, não me dou conta de quaisquer preocupações dos políticos que continuam, na sua lenga-lenga do crescimento económico a lutar contra os fantasmas de uma crise sem solução por tal via.
A verdadeira austeridade bate-nos à porta, mas continuamos à espera do maná que cai do Céu.
É, pois, uma crise de entendimento e de temeridade esta que, a cada dia que passa, a nossa ambição teimosa mais agrava!


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