A menos aqueles chavões
que inculcam ideias feitas nas cabecinhas menos prevenidas que, por isso, as
aceitam como inquestionáveis verdades, não haverá já grande coisa em que alguém
acredite realmente.
Neste “salve-se quem
puder” que os restos de uma civilização em avançado processo de decomposição inspira,
reforçam-se as “precauções” de quem pensa que arrecadando fortunas se põe a
salvo das borrascas que se aproximam. Talvez nunca alguém lhes tenha dito que o
dinheiro de nada serve na cova. E lá vão vivendo na ilusão.
Sem ir longe numa reflexão
que seria longa demais, fiquemo-nos pelas coisas mais caseiras que, mesmo na
escala de um país pequeno, podem ser uma amostra significativa de um estado de
espírito global próprio do tempo que vivemos: Os ratos, assustados, abandonam o navio, mas os oportunistas não o
deixam sem, antes, tentarem recolher todos os proveitos a que a confusão geral
lhes permita deitar mão.
De que lhe servirão depois
não sei, mas é assim que acontece.
Sem compreender tanta
coisa mal esclarecida no processo Casa Pia que parece ter deixado de fora
alguns que parecem tão culpados como os que foram condenados, ainda mal
refeitos do escândalo asqueroso e dos prejuízos avultados provocados por uns
quantos notáveis através do BPN que um regulador apático terá deixado à solta,
duvidosos da verdade que o julgamento do caso Alcochete acabou por aceitar,
além de outros casos em que o poder estabelecido parece ter ido além das marcas
sem que a Justiça o condenasse, cai-nos em cima o escandaloso e brutal caso da
falência do BES ou do GES, que importa, e, como se tal fosse pouco, o quase
inacreditável caso dos vistos gold dos quais figuras bem situadas na estrutura
do poder se terão aproveitado para “fazer uns cobres” e lesar a todos nós que
somos o já quase falido “banco” do Estado.
É nesta altura que me
lembra o velho dito “ajuda o pai que é velho!”
De tudo isto e porque não
acredito que as coisas fiquem por aqui depois do ponto a que chegaram, só “o
que mais me irá acontecer” parece ser o receio razoável que uma actuação
finalmente firme da Justiça poderá atenuar.
Os resultados das audições
da “turma dos vistos gold”, com medidas de coacção pesadas, além de algumas
condenações como no caso “face oculta” aconteceram, talvez indiciem
procedimentos mais decididos do que os que permitem a tanta gente andar à solta
sem o merecer.
Deixa-me muito curioso e
expectante esta declaração do advogado de defesa do que, no caso dos vistos
gold e por ora, parece ser o mais responsável: "há um tempo certo para falar e sítios próprios para o fazer. Para a
defesa, este tem sido e continua a ser o tempo de falar apenas e só no
processo" e "o ruído, as palavras fora do processo, especialmente as
cirúrgicas e as distorcidas, não atraem a defesa", acrescentando,
também, que "além de ser ilegal e
repugnante, pode servir apetites, agendas ou interesses, mas não serve nem os
interesses do Direito nem os da Justiça".
Será que vai começar a
desenrolar-se o novelo que mostrará, finalmente, os podres desta classe de
políticos que a liberdade, distraída, escolheu?
Em face do que a Justiça
tem deixado para trás, será razoável ter alguma esperança?
Só o futuro o dirá.
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