O ex-Presidente da
República Jorge Sampaio, de quem os jornalistas tentaram saber o que pensava
sobre a prisão de Sócrates, limitou-se a dizer estar “muito preocupado com o
que se está a passar no país”!
Foi pena não dizer o que
se está a passar que tanto assim o preocupa porque considero Sampaio um
político em quem o que aconteça não provoca reacções intempestivas mas
ponderadas, um homem sensato e com capacidade para analisar os momentos que se
vivem, as circunstâncias e os problemas que mereçam particular atenção.
Fiquei sem o saber, mas
duvido que Sampaio engrosse as fileiras dos que entendem ser a “operação
marquês” apenas uma cabala montada pelos que “estão a empobrecer o país e, em
vez de Sócrates, deveriam ser presos”. Talvez por isso se tenha escusado a
dizer o que pensa porque mais ainda poderia destacar as intempestivas reacções do
seu camarada Soares nesta hora, sem dúvida complicada, que requer mais
ponderação e bom senso do que reacções desbocadas.
Tenho entendido o que se
vem passando no país não como algo que me preocupe demais mas como uma inflexão
que as circunstâncias impuseram num já longo caminho de “desmandos
democráticos”, das liberdades sem limites, das leviandades sem contenção e da
utopia de um eldorado em que, sem preocupações, todos viveríamos felizes.
Já que a razão não foi
capaz de o prever, mostraram as circunstâncias que esse lugar de sonho para que
a Constituição aponta nos seus propósitos, não existe. Por isso seria inevitável
que chegasse este momento de por as coisas no seu devido lugar, a hora de
esclarecer o que tiver de ser esclarecido e de fazer o que tiver de ser feito
para endireitar o caminho que teremos de fazer pelo nosso pé. Não às costas de
alguém e ser regido por regras democráticas sensatas e justas.
Preocupava-me, sim, a
caminhada irresponsável pelos equívocos e pelos excessos em que caímos e nos
fez reféns de oportunistas que se foram aproveitando da nossa ingenuidade. Quem
são eu não sei ao certo. Mas que há vidas que me surpreendem pelo “sucesso”
rápido que alcançaram e que há óbvios privilégios que a maioria de nós sustenta
sem deles nem um pouco desfrutar, disso não me restam dúvidas.
Deveria assim continuar?
Penso que, finalmente, o
país está a acordar do sonho mirífico da felicidade sem dor, disposto a por um
fim nos excessos dos que, à custa de todos nós, apenas se preocuparam com a sua
própria felicidade.
Mas teremos de fazer esse
caminho com rigor e com prudência, sem excessos e paixões que tudo deitem a
perder.
Que a Justiça seja esclarecida
e bem sucedida nos seus propósitos é o que mais desejo.
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