ACORDO ORTOGRÁFICO

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domingo, 23 de novembro de 2014

QUEM NÃO QUER SER LOBO…


Ontem, foi um dia passado a escutar e a ler as mais diversas opiniões e informações sobre a detenção de José Sócrates.
Parecia que nada mais haveria para noticiar ou falar e, quando havia, era sempre de uma forma rápida, fugidia, sem perder muito tempo porque o caso Sócrates não podia esperar.
Era uma repetição maçuda das mesmas coisas que davam para todos os gostos. Umas revelavam amores, outras ódios e raramente, se alguma vez, me apercebi que se falasse dele com indiferença, mesmo quando a intenção era mostrá-la.
Mentiria se dissesse que morro de amores por este personagem que, pessoalmente, apenas conheci de relance numa reunião de professores na UNI (!), a universidade onde acabei a minha carreira de professor uns anos antes da derrocada que, por razões que nada tiveram a ver com a sua qualidade académica, infelizmente, se seguiu.
Como a maioria de nós, conheci-o melhor enquanto foi primeiro-ministro. Então não foi, de todo, alguém cujo modo de ser me encantasse, tendo atitudes e tomando decisões que me deixavam preocupado quanto às consequências no futuro do país.
Eram erros evidentes, graves demais que se somavam a outros mais antigos, numa sequência leviana e perigosa num mundo que, a passos largos, se aproximava do desastre económico do qual ainda não se recompôs.
Mas mentiria também se afirmasse que me sinto confortável com toda esta barafunda que a sua detenção está a causar e com esta vergonha pública que, por isso, todos estamos a passar. Ou não estamos?
Afinal, uma maioria de portugueses depositou nele a sua confiança para conduzir os destinos do país e, com isso, o tornou num personagem de topo, alguém que associava ao seu o nome de Portugal.
Apesar das muitas controvérsias que gerou, dos diversos casos a que o seu nome foi associado, do ridículo daquela licenciatura que não foi mas que parece conservar-lhe o título que ambicionou, pouco tempo se manteve discreto este homem depois da crise financeira extrema em que colocou o país que, sem qualquer espanto, o afastou da governação.
Depressa ressurgiu das cinzas, com vida de fausto e arrogância política, até ao ponto da reentronização que parecia em curso no partido que António Costa passou a liderar, dizendo-se, até, que poderia ser o candidato apoiado pelo PS nas próximas eleições para Presidente da República.
Tornou-se, também, um notável coleccionador de deferências que o levaram a integrar o Conselho Geral da Universidade da Beira Interior (?!) e a ter a “chave da Cidade da Covilhã”.
Mas há um ditado que diz que “quem não quer ser lobo não lhe veste a pele”.
Agora o que se seguirá?


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