Há
uns quantos anos, um ministro demitiu-se porque uma ponte bastante antiga caiu
em consequência de cheias excepcionais que, nesse ano, se sucederam no Rio
Douro. Na queda, a ponte levou consigo viaturas que nela passavam, com gente
que acabou por perder a vida! Uma tragédia enorme pela qual eu esperaria do
ministro, em vez do auto-afastamento imediato, o empenhamento sério na procura
das causas pelas quais o acidente aconteceu. Havia muita gente que esperava e
tinha direito a que da parte do Estado houvesse uma resposta clara e não o
abandono que se verificou.
São
aos milhares as pontes por todo o país e não é, por certo, o ministro o
responsável pelo que se passa com cada uma delas, porque há um serviço especializado
para a sua inspecção e manutenção, com gente qualificada e uma direcção à qual
o ministro deveria ter pedido responsabilidades. A verdade é que, na rapidez
com que pediu a demissão, nem explicações pediu e deixou correr, mal como
correu, um processo que seria da sua responsabilidade acompanhar de perto, até
terminar no esclarecimento completo que ao povo português era devido mas que
nunca foi feito como o deveria ter sido! Só então, depois de tudo esclarecido,
faria o que entendesse.
Pareceu-me
muito estranho e oportunista como, na política, tanta coisa me parece. Mas que
sei eu?
Um
outro ministro socialista demitiu-se em consequência de dúvidas que foram
levantadas acerca do cumprimento das suas responsabilidades fiscais. Que outra
coisa poderia ele fazer perante uma dúvida tão grave, mesmo estando certo de
que havia cumprido com os seus deveres de cidadão como, posteriormente,
mostrou?
Há
poucos dias, um outro ministro, Miguel Macedo, pediu a demissão em consequência
do processo “labririnto” no qual estão envolvidas personalidades de quem é
próximo ou que conhece e, até, pessoas com responsabilidades no seu próprio
ministério, indiciadas da prática de crimes graves na concessão de “vistos
gold”. Compreendi a atitude que me parece justificada por relacionamentos
próximos com alguns dos indiciados, do que resulta, por certo, um desconforto
que lhe retira condições para a continuação no cargo. Além disso, não lhe
competia o esclarecimento do que se tenha passado porque a polícia havia já
investigado e remetido o caso para os tribunais.
São
óbvias as diferenças entre o primeiro e os dois casos seguintes. Mas parecem-me
evidentes as semelhanças entre o caso do ministro Miguel Macedo, com o
desconforto em que António Costa se deveria sentir pela proximidade política
íntima com Sócrates a cujo governo pertenceu como figura destacada e a quem se
propunha, agora, reabilitar politicamente.
Mais
do que isso, são seus parceiros íntimos nesta campanha de regresso ao poder, os
socialistas mais próximos de Sócrates, alguns que, tal como ele, participaram
dos seus governos e são os grandes defensores da sua não responsabilidade na
grave crise que vivemos. Mesmo, até, aqueles com quem, por certo, mais conta
para o governo que espera vir a formar!
Em
vez de se escudar na recusa das práticas stalinistas de fazer desaparecer da
fotografia personas non gratas, parecer-me-ia melhor Costa reconhecer ser difícil,
nestas condições, poder contar com a confiança política que um candidato a
primeiro-ministro deve merecer porque, aconteça o que acontecer, Sócrates é,
sem qualquer dúvida, o político que mais desconfiança já causou nesta democracia que precisa,
urgentemente, de se reabilitar perante os cidadãos.
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