Henrique
Monteiro escreveu no Expresso (edição on line):
“Passos Coelho fechou a célebre conferência
sobre a reforma do Estado (agora já com os jornalistas todos presentes) com uma
frase deveras interessante de analisar: "O país não pode parar só por
não haver consensos". Aparentemente, a frase faz sentido e revela um
homem determinado; porém, se pensarmos segunda vez é uma frase profundamente
errada.
As reformas que o país tem de fazer não podem ser
feitas 'apesar do país'. O mandato que o Governo tem não pode ser
'contra o país'. As reformas que constitucionalmente precisam de consenso
têm de ser obtidas com o consenso necessário. A frase de Passos é, por isso,
totalmente desprovida de sentido, a menos que implicitamente haja a ameaça de
um golpe palaciano ou pior.
À arte de transformar uma sociedade nos limites do
que é possível chama-se governar. Talvez se o primeiro-ministro pensasse
mais nisto, e menos em voluntarismos sem sentido, fosse capaz de arranjar
soluções e reformas de que, verdadeiramente, necessitamos. E em vez de
seguir, isolado, não se sabe para onde, conseguisse alguns aliados. Mas a
escolha está feita, e com ela mais uma oportunidade perdida.”
Li uma vez e pareceu-me estranho. Li uma segunda vez e pareceu-me
perverso, pois não consegui relacionar as deduções com o mote e, muito menos,
com a sua razão de ser, a recusa expressa do PS em participar no estudo e
discussão da reforma inevitável do Estado Português.
Seguem-se, na edição “on line”, muitos comentários que não comentam nada
porque apenas insultam um primeiro-ministro que mais este escrito deita abaixo
num processo de dedução enviesada talvez pela necessidade de escrever qualquer
coisa de preferência em função da moda que a pudesse apreciar. E a moda é bater
no primeiro-ministro e na sua intenção de reformar o país que já mostrou não
conseguir endireitar-se de outro modo.
Numa vida profissional onde estudar, investigar, projectar, fazer e ensinar
foram tarefas permanentes, nunca me dei conta de um processo dedutivo tão estranho
como este. Decerto porque sempre trabalhei em domínios onde se não omitem partes do todo para facilitar a conclusão a que se pretenda chegar.
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