Tal como o futebol que era mais entusiasmante
sem as indiscretas câmaras de televisão que retiraram de um jogo entre homens a
possibilidade do erro humano e das dúvidas que alimentavam as entusiásticas
discussões em que cada um ficava na sua, também a política, como o próprio futebol, nada lucrou com a
chusma de comentaristas que, como mosquitos à volta de um pavio, se
acotovelam nas televisões, nas rádios e nos jornais, até chegar a hora de
desbobinarem as suas esclarecidas teorias sobre o que se passa.
Desde que nasci, já vi
alargar-se o leque das “profissões” que, de pouco mais de meia dúzia, passaram a milhares, mas
também vi comprimir-se, e muito, o leque dos que, efectivamente, fazem alguma
coisa de útil, que façam o tal trabalho produtivo, que produzam os “bens transacionáveis”
sem os quais o país não vive nem melhora. Pudera! Hoje, como sempre o foi, trabalhar é
bom para os estúpidos, porque aos outros é concedido o privilégio de apenas
terem de pensar e comer o que outros produzam...
E quando acontecem coisas
como um Orçamento de Estado que, cada vez mais fundo, nos vai ao bolso, o
Presidente da República dirige ao país um longo discurso entrecortado por certezas e enigmas e as Oposições se
afirmam como quem tem a solução mágica que pode salvar Portugal, é curioso
prestar alguma atenção ao que dizem os mestres da “faladura”. Espiolham textos,
frases, vírgulas e até lêem nas entrelinhas. Sabem, mesmo, como seria o que não
foi dito. Eu acho que é isto que melhor fazem… E porque não hão-de fazê-lo se
nunca ninguém tirará a limpo se têm ou não razão?
Deitam os foguetes e
correm atrás das canas! Assim fazem a festa, alimentando-se dos que preferem as
ideias dos outros ao esforço de terem as suas.
Mais dizem que o Governo
estará a confrontar a Constituição que, sucessivamente, tenta violar, que Passos
Coelho e Gaspar crêem ser os reis do mundo e nada ouvem do que se diz à sua
volta, que o Presidente da República fomenta uma guerra entre novos e velhos,
tornando-se o cabecilha dos reformados, que o Governo força uma situação que
lhe permita apontar a Concertação Social e a Constituição como os causadores do
insucesso das suas políticas e, finalmente, criará as condições ideais para se livrar
de um fardo que não consegue mais transportar, deixando nas mãos de outros a
responsabilidade de o fazer.
Mas que outos, pergunto
eu?
E como se todos estes
prenúncios dramáticos não bastassem, vem daí um secretário de Estado dizer que
se o Tribunal Constitucional chumbar seja o que for do OE13, porá em risco a
continuação da ajuda financeira da Troika, por falta de cumprimento dos acordos
firmados, do que resultarão graves danos, não para o Governo nem para o
Tribunal Constitucional, mas sim para o povo. O povo que jamais passa de ser a "bola" em que, tal como no futebol, todos querem chutar.
E eu que pensava poder ter
o meu banhito longo sossegado, como é meu hábito fazer nos fins-de-semana,
acabei por assistir a este filme de horrores com que uns meninos – que às vezes
até falavam em coro – me brindaram ao longo de mais de uma hora!
Ao menos, lá fora o Sol
brilha e um almocito, frugal mas reparador, talvez seja capaz de desviar da minha mente os
terrores que tanto “sábio conhecimento” lá colocou!!!
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