Um dia, ainda miúdo, vi
alguém dirigir-se ao rio com um saco onde, pelos sons que se ouviam, me parecia levar cachorrinhos.
Para me certificar,
perguntei se eram mesmo cachorrinhos o que ali ia e a resposta foi sim,
acrescentado, “sabe menino, a cadela teve uma ninhada demasiado grande e os
mais fracos têm de ser afogados”. Achei aquilo de uma enorme falta de
humanidade e ripostei, dizendo que não estava certo porque, se nasceram, com
certeza deveriam viver.
Encolhendo os ombros,
responderam-me assim: “pois é, também me custa fazê-lo, mas se o não fizer
acabarão por morrer e com bastante mais sofrimento, porque os mais fortes os
não deixarão mamar, pois não pode a cadela com tanto cachorro! Era o modo de dizer que a cadela não tinha leite bastante para alimentar os mais fracos depois de saciados os mais fortes.
Por vezes acontece assim.
Há de menos para todos quantos precisam e, é regra também, sempre são os mais
fracos os prejudicados.
Numa sociedade humana,
compete a quem a governa evitar, quanto possa, que tal suceda ou seja demasiado
evidente. Por isso, terá de criar condições para que o que houver tenha uma
distribuição justa de modo a chegar para todos, para além de promover o
esforço, de um modo justo também, para que no futuro haja mais e, com mais,
todos possam vir a ser contemplados!
É um facto indesmentível
que jamais se poderá repartir o que não haja. É uma mentira reprovável prometer
o que não possa ser feito ou dado. E será uma atitude malévola a de não querer corrigir
as promessas que se tenham feito deste modo, promessas demagógicas que tanto
podem resultar de jogos eleitorais para conquista do poder como do
desconhecimento do que, de facto, haja para repartir.
Infelizmente, hoje sabemos
o pouco que temos e mal chega para todos nós, porque deixamos de produzir e nos
dedicámos a gastar demais, como se os jogos financeiros fossem o cerne da vida
que agora reclama o que não se pode dar.
Por isso me pareceu demagogia
excessiva uma afirmação que, por certo, não passa de eleitoralismo puro e fácil
e, por isso, condenável, a afirmação de Zorrinho, o líder parlamentar
socialista, de que o PS “não será cúmplice da Comissão de Cortes”.
Porque não participa numa
medida que as circunstâncias mostram ser inevitável, contribuindo para que ela
seja melhor e tornando maior a força que enfrenta a Troika nos seus desígnios
de austeridade, não evitará ser cúmplice dos “maus” cortes que possam vir a ser
feitos.
Depois, há que trabalhar
muito para voltar a crescer e, assim, poder haver mais para todos nós.
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