ACORDO ORTOGRÁFICO

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sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

NÃO PODE A CADELA COM TANTO CACHORRO



Um dia, ainda miúdo, vi alguém dirigir-se ao rio com um saco onde, pelos sons que se ouviam, me parecia levar cachorrinhos.
Para me certificar, perguntei se eram mesmo cachorrinhos o que ali ia e a resposta foi sim, acrescentado, “sabe menino, a cadela teve uma ninhada demasiado grande e os mais fracos têm de ser afogados”. Achei aquilo de uma enorme falta de humanidade e ripostei, dizendo que não estava certo porque, se nasceram, com certeza deveriam viver.
Encolhendo os ombros, responderam-me assim: “pois é, também me custa fazê-lo, mas se o não fizer acabarão por morrer e com bastante mais sofrimento, porque os mais fortes os não deixarão mamar, pois não pode a cadela com tanto cachorro! Era o modo de dizer que a cadela não tinha leite bastante para alimentar os mais fracos depois de saciados os mais fortes.
Por vezes acontece assim. Há de menos para todos quantos precisam e, é regra também, sempre são os mais fracos os prejudicados.
Numa sociedade humana, compete a quem a governa evitar, quanto possa, que tal suceda ou seja demasiado evidente. Por isso, terá de criar condições para que o que houver tenha uma distribuição justa de modo a chegar para todos, para além de promover o esforço, de um modo justo também, para que no futuro haja mais e, com mais, todos possam vir a ser contemplados!
É um facto indesmentível que jamais se poderá repartir o que não haja. É uma mentira reprovável prometer o que não possa ser feito ou dado. E será uma atitude malévola a de não querer corrigir as promessas que se tenham feito deste modo, promessas demagógicas que tanto podem resultar de jogos eleitorais para conquista do poder como do desconhecimento do que, de facto, haja para repartir.
Infelizmente, hoje sabemos o pouco que temos e mal chega para todos nós, porque deixamos de produzir e nos dedicámos a gastar demais, como se os jogos financeiros fossem o cerne da vida que agora reclama o que não se pode dar.
Por isso me pareceu demagogia excessiva uma afirmação que, por certo, não passa de eleitoralismo puro e fácil e, por isso, condenável, a afirmação de Zorrinho, o líder parlamentar socialista, de que o PS “não será cúmplice da Comissão de Cortes”.
Porque não participa numa medida que as circunstâncias mostram ser inevitável, contribuindo para que ela seja melhor e tornando maior a força que enfrenta a Troika nos seus desígnios de austeridade, não evitará ser cúmplice dos “maus” cortes que possam vir a ser feitos.
Depois, há que trabalhar muito para voltar a crescer e, assim, poder haver mais para todos nós.

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