Quando era miúdo e como
era hábito lá pelas bandas da minha Terra, na Serra da Estrela, ouvi muitas
vezes cantar as janeiras e mesmo participei em alguns grupos que as cantavam.
A gente nova ia de porta
em porta, insistindo naquelas das quais poderiam resultar melhores proventos
como uns caramelos, uns bolitos umas moedas ou qualquer coisa que valesse a
pena.
Cantavam-se umas quadras
simpáticas para os donos das casas que, deste modo, se sentiriam mais generosos
quanto à dádiva que, finda a cantoria, ansiosamente era esperada.
“Levante-se lá minha
senhora,
Dessa cadeira de prata,
Venha dar-nos as janeiras,
Que está um frio que mata…”
Quantas vezes era
necessário insistir nas cantorias que o frio gélido das noites de Janeiro fazia
cheias de tremidinhos e de falsetes, ao mesmo tempos que se batiam os pés no
chão e se esfregavam fortemente as mãos para lutar contra o frio que os enregelavam.
“ De quem é aquele anel,
Que ali está a reluzir,
É da dona desta casa,
Que para o Céu há-de ir…”
Mas nem sempre a Senhora se dispunha a dar uns pequenos mimos a uns miúdos impertinentes
que acabavam por ter de lhe enviar uma mensagem mais contundente e determinada:
“Levante-se lá minha
Senhora,
Dessa cadeirinha torta,
Venha-nos dar as janeiras,
Senão "fazemos"–lhe á porta!
Hoje a “Senhora” a quem se pede é outra,
mas igualmente pouco disposta a atender os pedidos de um pequeno mimo que seja,
para que tenha valido a pena suportar as dores sofridas para o alcançar.
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