Lembro-me do futebol sem
televisão, visto pela comunicação social praticamente com os mesmos meios com
que todos os espectadores o viam. Se o árbitro errou ou não errou, era coisa
que cada um opinava conforme julgava ter visto ou as suas preferências
clubistas lhe faziam crer que vira e não havia maneira de tirar a limpo quem
estava ou não estava certo. Não havia, pois, razão para aprofundar discussões
que nada podia, fora de dúvidas, esclarecer.
Mesmo arrastando, desde
muito cedo, multidões, o futebol estava, então, longe de ser o que é hoje
porque, ao longo do tempo, foi passando de um desporto cativante a uma “indústria”
de milhões envolvida em paixões cada vez mais exacerbadas mas suportada por
interesses que deram lugar a outras “indústrias” que, não raramente, pervertem
a consciência desportiva que herdou das suas origens.
Também o modo de ver o
futebol se alterou profundamente. Olhos muito especiais observam-no de todos os
lados e ângulos perscrutando todos os pormenores, de modo como nenhum ser
humano o consegue ver. A “verdade” passou a ser apenas uma, aquela que as
imagens gravadas e as tecnologias de repetição permitem determinar quase sem
falhas de rigor.
Hoje, no futebol, já não faz sentido dizer que
“perder ou ganhar, tudo é desporto”, pois estão muito para lá das sensações que
o desporto pode provocar, aquelas a que os proveitos ou os prejuízos resultantes
dos resultados podem dar origem.
Jogadores e treinadores
chegam a ganhar salários absurdos que elevam os encargos financeiros dos clubes
a níveis que se não compadecem com faltas de rigor, para além de outras formas
de movimentar muito dinheiro e os correspondentes interesses que não podem ser
indiferentes a tanta coisa que acontece.
Por isso se procura a
“verdade” ou se faz tudo para que a “mentira” a pareça e os árbitros, a quem o
sistema confere uma autoridade absoluta de decisão em casos nos quais deixaram
de ser os melhores julgadores, não podem deixar de ser tidos como a causa de
falsidades quando as suas decisões não conferem com a “verdade” que as
tecnologias permitem determinar.
Por isso não faz sentido
que, a par de tantas mudanças que no futebol tiveram lugar, se mantenha a
arcaica forma de arbitrar os jogos profissionais, sujeita a erros que a
condição humana do árbitro sempre pode justificar, mesmo quando fica óbvio que as
suas razões vão muito para além dessas “falhas”
Sem comentários:
Enviar um comentário