ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

domingo, 21 de abril de 2013

UMA QUESTÃO DE INTELIGÊNCIA

Giles Lipovetsky, filósofo francês, esteve em Portugal e numa conversa com jornalistas, versando os problemas da Europa, terá afirmado que “mais do que uma crise de valores, vivemos um problema de inteligência
 
Dou-lhe todo o meu apoio no que diz, pois outra coisa, afinal, não venho sugerindo desde que escrevo este jornal. Falta capacidade para entender coisas demasiadamente complexas para caberem em simples chavões que se repetem ou para serem explicadas por princípios noutras circunstâncias definidos.
Porém, levo a afirmação mais longe, para além da Europa, até ao mundo inteiro, onde os valores da vida estão adulterados e o entendimento da realidade subvertido pelas questões financeiras que se tornaram nas nossas mais fortes e, por vezes, únicas preocupações.
Deixámos que se perdessem tantas coisas que nos faziam felizes, esquecemos princípios de comportamento que nos tornavam sociáveis, perdemos a noção da importância da Natureza da qual dependemos e tornámo-nos dependentes de sonhos de riqueza e vida fácil que a realidade não comporta.
Soterrámos em egoísmos mesquinhos a solidariedade sem a qual a Humanidade não terá futuro, desperdiçámos em coisas das quais não tínhamos necessidade e em consumismos alarves o que a Natureza nos pode dar para viver com moderação, substituímos pela “frontalidade” rude o respeito que os demais nos deveriam merecer.
Aos idosos desejamos que morram depressa para não prejudicarem a economia, havendo até quem se atreva, apesar das responsabilidade públicas que tem, a defini-los como a “praga grisalha”. Os jovens que nos continuariam são empecilhos que nos dificultam a vida e, por isso, cada vez menos os desejamos. Da família apenas aproveitamos o “abrigo” que, sobretudo em tempos de crise, tanto jeito dá. De nós próprios pouco cuidamos como se o futuro não existisse ou não valesse a pena ser cuidado e toda a vida tivesse de ser vivida na correria desenfreada a que a ambição de riqueza incita e os prazeres fáceis reclamam!
Se a inteligência é a capacidade de entender o meio que nos rodeia para com ele interagir de forma que nos permita sobreviver da melhor forma possível, mostra a realidade que cada vez menos a utilizamos como deveríamos, deslumbrados que estamos pela vida fácil e permissiva que “conquistámos” à nossa própria vida, aquela que, em vez de a viver, em desmandos contínuos desperdiçamos.
E se, desde há tantos anos já, se mantêm as razões por que critico as mesmas práticas, faço os mesmos reparos e aponto os erros que perduram, alguma falta de inteligência haverá no modo de remediar o que nos apoquenta, na forma de dar solução a problemas que, sem dúvida, a terão. Diferente da que procuramos. Mas que existe, certamente!
O que acontece quando, em vez de pensarmos, nos deixamos levar pela onda provocada pelos interesses de outros, é este desnorte em que caímos.
Talvez por isso, é este um ano mais em que o FMI revê em baixa as perspectivas económicas para o futuro, em todo o mundo...


Sem comentários:

Enviar um comentário