ACORDO ORTOGRÁFICO

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quinta-feira, 25 de abril de 2013

UMA HISTÓRIA DO 25 DE ABRIL



Eu estava, desde 1970, em Lourenço Marques, hoje Maputo, quando o 25 de Abril de 1974 aconteceu.
O destino levara-me até ali para evitar uma terceira ida à tropa quando já era casado e tinha três filhos. Viajámos, eu e toda a família, numa longa viagem em que fizemos amizade com alguns militares, de alguns dos quais, passado não muito tempo, já só restava a lembrança…
Foi bem melhor estar ali, naquela terra bonita, como civil a trabalhar no LEM e a ensinar na Universidade, do que ter de abandonar a família e embrenhar-me no mato de onde ninguém podia ter por certo que sairia vivo.
Mas ninguém poderia deixar de perceber que, numa terra enorme e cheia de potencialidades, o futuro não passaria pelo resultado de uma guerra impossível de vencer, porque apenas poderia ser construído num espírito de cooperação que poucos quiseram entender.
Por essa razão poucos compreenderam, desde logo, o significado de uma “revolução “ que aconteceu subitamente, sem a preparação de uma mudança preparada de modo a que para todos fosse proveitosa. Por isso, talvez, a maioria se deixou levar na miragem simplória de que “agora é que a vida vai ser boa e livre”. Aconteceu de ambos os lados...
Mas houve um facto que, manhã cedo a 26 de Abril, me abriu os olhos para uma realidade bem para além do sonho de acabar com a ditadura, me esclareceu sobre o entendimento que muitos faziam das consequências do que estava a acontecer e me deu a medida do alcance de uma liberdade que, para ser verdadeira, só poderia significar a responsabilidade que, sem ela, nunca tivéramos.
Tinha acabado de deixar a minha mulher no seu local de trabalho quando me apercebi de algo impensável naquela cidade organizada, onde todos cumpriam, com rigor, as regras estabelecidas. Alguém estava a estacionar o carro com as rodas em cima do passeio! De imediato, como vulgarmente acontecia, um policial lhe chamou a atenção, ao que o prevaricador respondeu: “isso era ontem. Hoje estamos em Democracia”!
Era no significado de Democracia, da liberdade que lhe é própria que estava o segredo do sucesso que poderíamos alcançar. Mal compreendida, só poderia dar maus resultados.

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