Uma sondagem cujos
resultados acabam de sair, realizada depois das barbaridades em que o nosso
ambiente político foi, recentemente, muito fértil, causa-me a mesma
perplexidade que outras já me causaram, com intenções de voto nos partidos do
chamado “arco do governo” a subirem enquanto o mérito de personalidades e de
instituições decresce cada vez mais.
Dizem-me estes resultados
que os portugueses continuam a apostar nos partidos pelos quais são
responsáveis aqueles a quem não reconhecem qualidades bastantes e participam
nas entidades cujo demérito também reconhecem.
Curioso é que o que mais
reclama democracia e, talvez por isso, seja o que melhores resultados obtém, também
seja o que menos a respeita ao não acatar as suas regras, antes preferindo as
contra-regras, como o prova o não entendimento dos contributos que as forças
políticas podem e devem dar em proveito do país, sobretudo em tempo de
emergência e quando, em vez de confronto, é de diálogo esclarecedor que
necessita.
Por isso me não pareceu
muito feliz a decisão do Presidente da República ao propor o que o PS já tantas
vezes declarou não desejar, o que pode significar que a sua verdadeira solução
seja a que não mencionou mas disse haver e talvez acabe por brevemente decidir
quando, no “curtíssimo prazo” que concede ao entendimento entre os partidos, o
acordo não surgir. Como tudo faz crer que não surja.
Aliás, é esta uma
conclusão que se pode retirar de uma frase lapidar de António José Seguro na
Assembleia da República, por definição o local de diálogo democrático que pode
conduzir às soluções de governação de que, em qualquer momento, o país
necessite.
Afirmou Seguro que “Nenhum diálogo político faz mudar a decisão
do partido socialista”, a propósito do acordo exigido pelo Presidente da República!
Um sintoma de casmurrice imprópria da autêntica democracia ou uma característica dos que, diz-se, nunca mudam de ideias.
Extraordinário este
entendimento que o líder da oposição tem de um regime político que o diálogo
distingue da sucessão de “ditaduras” em que se tornariam os governos a que a
tão louvada alternância democrática vai dando lugar.
Pobre este país onde estas
coisas acontecem. Triste país este em que o palavreado fácil fica no ouvido dos
que não se dispõem a pensar na realidade que os cerca nem nos perigos que o
populismo sem mérito sempre trás.
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