Acontece-me, como
a muito boa gente acontece, ter de ler ou de ouvir mais de uma vez para ter a certeza do
que li ou do que ouvi. Porque há coisas mesmo difíceis de entender.
Aconteceu-me mais uma vez quando
Sócrates afirmou, numa daquelas suas “sátiras” na RTP, que o seu partido, o PS,
não poderia aceitar um acordo com o PSD e CDS/PP sobre as políticas a levar a
cabo até final do “programa de ajustamento” porque tal seria aceitar um acordo
com o que já está decidido. O PS só poderia aceitar se o acordo fosse acabar
com as políticas de austeridade.
E fiquei a pensar se tão
pouco tempo passado poderia fazer esquecer a Sócrates quem negociou com a
Troika esse “programa de ajustamento” do qual é consequência lógica e
inevitável a austeridade que bem poderia ser menor se ele não tivesse colocado
em quase cem por cento do PIB a dívida externa de Portugal e criado as
condições para pedir o resgate financeiro! Não é um bom programa, mas é o que Sócrates negociou.
Mas, pensando melhor,
recordei aquela afirmação inesquecível de que as dívidas dos Estados não são
para pagar!!! E entendi o ponto de vista de Sócrates e, com ele, o do seu
partido que, estou convencido, não fará qualquer acordo. Ou antes, com as
ideias que tem, ou das quais nos quer convencer, só conseguiria faze-lo com o
PCP ou com o BE para quem o pagamento da dívida também está fora de questão.
Assim reforço a ideia que
já expus, de que Cavaco Silva propôs uma solução que o não é. E porque não
posso conceber que o tenha feito sem o pensar muito cuidadosamente, estou certo
de que terá uma outra qualquer solução na qual coloca uma certeza que não sei
de onde lhe virá…
Parece-me pouco
confortável a posição do Presidente que pode ver-se na situação próxima de ter
de avançar com uma qualquer das soluções que fez notar que existem, mas que não
vejo muito bem como se sustentam nas condições difíceis em que vivemos, numa Europa
que cada vez menos tem condições para nos ajudar.
Também, por esse mundo
fora, não encontro o porto seguro onde possamos tentar abrigo que nos proteja
das convulsões que, creio bem, serão cada vez maiores.
O futuro muito próximo nos
mostrará como as coisas são.
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