Para
além da indiferença que, creio, não será o modo como a maioria
hoje pensa o seu futuro, há dois modos de encarar as mudanças a
que a crise política deu lugar. Um será o de esperar que a mudança
corrija algum do mal que foi feito, outro é dizer,
desde logo, que tudo vai correr mal. Diz-se isso do Velho do Restêlo.
A
esperança de que seja bem sucedida é, quanto a mim, a mais
natural, já que as mudanças se fazem para melhorar o que não
esteja bem. E por que não haveremos de ter esperança de que passe a
ser melhor se, como a experiência nos diz, se aprende com os erros
cometidos?
É
verdade que a esperança nunca foi certeza e, também, que mudar por
mudar nunca foi solução.
Mas
quando, entre as possibilidades, se escolhe a menos má, mesmo que
não seja a mais desejada, é uma atitude sensata a que se toma.
Não
me parece valer a pena, sequer, admitir qualquer das soluções que
os partidos que se dizem mais á esquerda propõem, pois não faria
qualquer sentido tentar impor soluções que nos não são
consentidas e, menos ainda, optar pela repetição do “orgulhosamente
sós” para o qual outras medidas, que também propõem, nos
atirariam de novo.
A
solução mais desejada porque corresponderia a uma força negocial
maior, foi anulada pelos sentimentos egoistas dos que colocaram os
interesses partidários acima dos de todo um povo que aguarda, dos
seus políticos, que façam o que seja melhor para o país.
Afinal as forças políticas existem para que? Para defender interesses parciais e pouco claros ou para, em discussão democrática, participarem nas escolhas das melhores soluções?
Afinal as forças políticas existem para que? Para defender interesses parciais e pouco claros ou para, em discussão democrática, participarem nas escolhas das melhores soluções?
Para
além dos discursilhos de Seguro, vi defender dois tipos de razões
para que o PS não fizesse o acordo de salvação nacional proposto
pelo Presidente da república.
Um,
do qual Mário Soares foi o mais evidente paladino, baseou-se na
necessidade de “políticas de esquerda” a que PSD e CDS seriam
contrários, pelo que o acordo cindiria o partido. O outro que, quase
incrédulo, escutei da boca de António Vitorino, é o despreso a que
o PS terá sido votado desde o início deste governo!
Não
me surpreendeu a atitude de Soares, de Alegre e de outros para quem o
romantismo da esquerda ainda possa ser solução. São fieis a
ideiais que a realidade actual não justifica mas que continuam a
ser os seus, os que a vivência num mundo em que ficaram enquistados
lhes continua a sugerir como os melhores. É pena que Seguro não
tenha aproveitado a oportunidade para enfrentar esse passadismo sem
sentido e que, queira-o ou não, lhe divide o partido que, a
continuar assim, não passará de uma contradição.
Mas
fazer de uma eventual desconsideração do PS nas tomadas de posição
do Governo no passado a justificação para que, agora, o partido não
participe na “salvação nacional” que as dificuldades vividas
reclamam com urgência, é uma forma requintada de egoismo e a forma
mais eloquente de afirmar que, como alguém muito bem o disse, Seguro
tenha preferido o PS ao país.
Se
os partidos mais à esquerda continuam iguais a si próprios e, por
isso, empenhados na defesa de utopias irrealizáveis, o PS
revelou-se, definitivamente, o verdadeiro partido do orgulho
solitário que o leva a pensar que nele, apenas, está a razão e a
capacidade de fazer. Precisamente o que combateu no 25 de Abril mas
não consegue deixar de adoptar como lema.
Um
síndrome que deve ter um nome qualquer...
Sem comentários:
Enviar um comentário