ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

terça-feira, 23 de julho de 2013

SERÁ QUE VALEU A PENA ESTA CRISE POLÍTICA?


A par de tantos que entenderam esta intervenção do Presidente da República como uma perda de tempo no caminho que, dizem, o povo escolheu e é o da demissão imediata do Governo, outros dirão que valeu a pena esclarecer coisas que algumas hipocrisias escondiam.
Vi, há uns tempos, o PR convocar um Conselho de Estado que tinha como intenção, a qual então julguei adequada, a de analisar o período pós Troika no qual, pelas notícias que sei, de tudo se terá falado menos do que era a intenção de quem o convocou. E quanto maldizer ouvi também, sobretudo vindo dos “inteligentes”  de visão curta que têm críticas para tudo mas não têm soluções para nada! Quantos, então, realçaram o ridículo que seria pensar no futuro quando tantos problemas temos no presente, como se o futuro se não construísse com as decisões que hoje tomarmos.
Não estranho nada disso porque é raro, neste país, pensar o futuro com a antecedência com que deve ser pensado. Depois de sermos um povo de dimensão mundial, tornámo-nos, infelizmente, num país de vistas curtas. Por isso nos agarramos esta antiquada democracia que não nos obriga a ver longe e, tem, nas alternativas que prevê e nas disposições da Constituição que gerou, as soluções para todos os problemas, sem nos obrigar a reflectir sobre nada. Como se a vida não fosse a evolução inevitável que é, mas sim a estagnação que os democratas antiquados julgam ser.
Se alguma coisa não bate certo, muda-se e logo se vê! É esta a nossa regra de ouro que, desperdiçando os ensinamentos dos erros praticados, nos leva a repeti-los de um modo cada vez mais requintadamente grosseiro.
Lembro-me de ter escrito isto por diversas vezes no passado, depois de tantas vezes que vi que o “apaga e faz de novo” é a solução para quase tudo no mundo da política. Nem uma só vez me dei conta de se ter parado para pensar, para analisar o que de mal foi feito e o seu porque para, depois, procurar e escolher as alternativas que o estudo e o bom senso levassem a escolher.
Muito menos vi, alguma vez, definir um caminho baseado em razões sérias e fundadas para o fazer. Sempre interesses particulares e razões de curto entendimento as superaram. Sempre vi preferir-se a aventura, o que pudesse acontecer, mesmo, até, o que os omnipresentes grupos de interesses pudessem preferir.
E quando, num mundo cada vez com menos opções, vejo quem deveria ter o bom senso de pregar a cooperação para procurar as melhores soluções para os inevitáveis problemas que a dinâmica da vida sempre nos coloca, ameaçar com cisões partidárias se um acordo de cooperação acontecesse, quando vejo líderes partidários fracos e incapazes de enfrentar as ameaças que lhes sejam feitas, terei de pensar que não abundam os neurónios neste país envelhecido cuja herança de prestígio nem sequer é respeitada!
Apesar de tudo, acho que valeu a pena este interregno que, mesmo sem ter dado os frutos que alguns sonhadores esperavam, deu para clarificar algumas coisas que o ruído dos repetidos discursos inflamados dos arautos das mudanças bruscas e as manifestações barulhentas não permitiam observar, ajudadas por inúmeras cenas de má educação que a democracia inculta levianamente valida.
Ficou claro quem coloca ou não coloca o país e o bem comum nas suas preocupações mais sentidas. Ficou claro a quem mais interessa o poder do que o bem do todos nós. Deixaram-nos sem dúvidas os que vêm nas ideologias que outros tempos e circunstâncias possam ter justificado, a solução para os problemas de tempos que, por tão diferentes que são, requerem novas soluções que não conhecem.
A questão, agora, está em aproveitar ou não os ensinamentos que os erros nos proporcionaram e a clarificação que as circunstâncias nos permitiram.
É preciso demonstrar que a coesão nacional, bem como a salvação do país não está mas mãos de “barões” ou de “dinossauros” deste ou de outro partido, mas sim nas de todos nós e de um governo eleito que, podendo aprender com os seus erros, saiba corrigi-los, explicando, com clareza, as decisões que toma e tomando em suas mãos a defesa dos interesses do país, mesmo que compatibilizados mas não submetidos a outros do espaço geopolítico do qual fazemos parte. O que devemos assumir de corpo inteiro, como portugueses e não como militantes ou simpatizantes partidários!
Enfim, nada me impede de ser sonhador, também.

Sem comentários:

Enviar um comentário