A par de tantos que entenderam esta intervenção do Presidente da República como uma perda de tempo no caminho que, dizem, o povo escolheu e é o da demissão imediata do Governo, outros dirão que valeu a pena esclarecer coisas que algumas hipocrisias escondiam.
Vi, há uns tempos, o PR
convocar um Conselho de Estado que tinha como intenção, a qual então julguei
adequada, a de analisar o período pós Troika no qual, pelas notícias que sei,
de tudo se terá falado menos do que era a intenção de quem o convocou. E quanto
maldizer ouvi também, sobretudo vindo dos “inteligentes” de visão
curta que têm críticas para tudo mas não têm soluções para nada! Quantos, então,
realçaram o ridículo que seria pensar no futuro quando tantos problemas temos
no presente, como se o futuro se não construísse com as decisões que hoje
tomarmos.
Não estranho nada disso
porque é raro, neste país, pensar o futuro com a antecedência com que deve ser
pensado. Depois de sermos um povo de dimensão mundial, tornámo-nos, infelizmente, num país de vistas curtas. Por isso nos agarramos esta
antiquada democracia que não nos obriga a ver longe e, tem, nas alternativas que prevê e
nas disposições da Constituição que gerou, as soluções para todos os problemas,
sem nos obrigar a reflectir sobre nada. Como se a vida não fosse a evolução inevitável
que é, mas sim a estagnação que os democratas antiquados julgam ser.
Se alguma coisa não bate
certo, muda-se e logo se vê! É esta a nossa regra de ouro que, desperdiçando os
ensinamentos dos erros praticados, nos leva a repeti-los de um modo cada vez
mais requintadamente grosseiro.
Lembro-me de ter escrito
isto por diversas vezes no passado, depois de tantas vezes que vi que o “apaga
e faz de novo” é a solução para quase tudo no mundo da política. Nem uma só vez
me dei conta de se ter parado para pensar, para analisar o que de mal foi feito
e o seu porque para, depois, procurar e escolher as alternativas que o estudo e o bom senso levassem a escolher.
Muito menos vi, alguma
vez, definir um caminho baseado em razões sérias e fundadas para o fazer.
Sempre interesses particulares e razões de curto entendimento as superaram. Sempre vi preferir-se a aventura, o que pudesse acontecer, mesmo, até, o que os omnipresentes grupos de interesses pudessem preferir.
E quando, num mundo cada
vez com menos opções, vejo quem deveria ter o bom senso de pregar a cooperação
para procurar as melhores soluções para os inevitáveis problemas que a dinâmica
da vida sempre nos coloca, ameaçar com cisões partidárias se um acordo de cooperação acontecesse, quando vejo líderes partidários fracos e incapazes de enfrentar as
ameaças que lhes sejam feitas, terei de pensar que não abundam os neurónios
neste país envelhecido cuja herança de prestígio nem sequer é respeitada!
Apesar de tudo, acho que
valeu a pena este interregno que, mesmo sem ter dado os frutos que alguns
sonhadores esperavam, deu para clarificar algumas coisas que o ruído dos
repetidos discursos inflamados dos arautos das mudanças bruscas e as
manifestações barulhentas não permitiam observar, ajudadas por inúmeras cenas de má
educação que a democracia inculta levianamente valida.
Ficou claro quem coloca ou
não coloca o país e o bem comum nas suas preocupações mais sentidas. Ficou
claro a quem mais interessa o poder do que o bem do todos nós. Deixaram-nos sem
dúvidas os que vêm nas ideologias que outros tempos e circunstâncias possam ter
justificado, a solução para os problemas de tempos que, por tão diferentes que
são, requerem novas soluções que não conhecem.
A questão, agora, está em
aproveitar ou não os ensinamentos que os erros nos proporcionaram e a
clarificação que as circunstâncias nos permitiram.
É preciso demonstrar que a
coesão nacional, bem como a salvação do país não está mas mãos de “barões” ou
de “dinossauros” deste ou de outro partido, mas sim nas de todos nós e de um
governo eleito que, podendo aprender com os seus erros, saiba corrigi-los, explicando,
com clareza, as decisões que toma e tomando em suas mãos a defesa dos
interesses do país, mesmo que compatibilizados mas não submetidos a outros do espaço geopolítico do qual
fazemos parte. O que devemos assumir de corpo inteiro, como portugueses e não como militantes ou simpatizantes partidários!
Enfim, nada me impede de ser sonhador, também.
Enfim, nada me impede de ser sonhador, também.
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