Aí está Junho! O mês que a tradição
fez de Festas e dos Santos Populares
Com
cantares e bailaricos,
Pimentos,
sardinha assada,
Com
balões e manjericos,
Vai
ser uma festa danada!
Era o tradicional programa o que
estava previsto para o mês inteiro, no qual as únicas marchas seriam as dos
bairros típicos de Lisboa, com as suas cantigas, os seus trajes garridos e os
seus arcos alegóricos.
Mas o mês parece querer ser mais
animado do que o costume! Andam a preparar outras marchas e outras festas até.
Tendo o ano doze meses, por que sobrecarregar de festas um que já estava bem
cheio? Falta de imaginação ou vontade de estragar a festa?
Mas enfim, se é tempo de festas que
festas se façam…
De balão lá nas alturas
Na Avenida a desfilar,
Para esquecer desventuras,
Seguro, Passos, Gaspar...
A marchar, a marchar sempre,
Com o Arménio a discursar,
Com a Avoila a gritar,
Lá vai a marcha contente!
Mas a euforia sempre acaba por
passar. Depois do excitante “vou p’ra festa!” há sempre um pouco entusiasmado
“venho da festa…”
E voltam as preocupações que nos
levam a implorar os favores que aos santos se usa pedir. Desta vez, porém, a
estes se juntarão outros que as circunstâncias tornam mais desejados neste
tempo de austeridade. E lá surgem quadras novas nas bandeiras dos manjericos…
Ao romântico Santo António de
Lisboa, casamenteiro que conserta as bilhas que as lindas moças partem na
fonte, eu pediria:
De Sto António eu quisera
Meu coração consertasse
E, como à bilha fizera,
De novo inteiro o deixasse!
E o pedido a
S. João…
S. João que me trouxesse
Alho porro bem pesado,
Para malhar no passado.
E nova vida me desse!
Ao venerando
S. Pedro, de quem se diz ser quem comanda as lágrimas do Céu…
A S. Pedro, a quem venero,
E do Céu as chaves tem,
Um favor peço também,
Um daqueles que muito quero...
De nuvens o céu enchesse
Para que delas chovesse,
Água tanta, tanta, tanta,
Para limpar toda esta trampa!
Mas duvido que adoçar esta vida
difícil seja tarefa fácil mesmo para estes queridos e tão prestáveis santinhos.
Talvez, por isso, seja melhor chamar
em nosso auxílio toda a corte celestial. E mesmo assim…
Santos da Corte Celeste
Anjos, Arcanjos, Alminhas…
Escutai as preces minhas
E livrai-me desta peste:
Viver a vida a penar,
Pagar impostos tamanhos,
E a reforma esticar,
Se encolhe todos os anos…
Se assim continua a ser,
Mais dura a vida se torna,
E quem poderá dizer
Se p’ró ano ainda há reforma?