Agradou-me
o discurso de Paulo Portas, bem mais esclarecedor do que o de Passos
Coelho que me parece, ainda, demasiadamente contraído ou
demasiadamente formal no estilo de discurso que adopta, longe do tom,
do ritmo e das palavras que a maioria do povo reconhece como sendo
para si.
Alguns
aspectos me parecem de destacar deste par de discursos de Estado a
que este governo, aliás, nos habituou.
No
princípio eram Passos e Gaspar que, em intervenções sucessivas e
com linguagens pouco acessíveis à maioria, marcavam o teor e a
orientação, ao que Paulo Portas resolveu, um dia, acrescentar a
sua. Mas, desta vez, depois de notícias que pretenderam dar conta de
sérias divergências que, no Conselho de Ministros, opunham o homem
forte da finanças e, até ali, mesmo do próprio governo, a cada vez
mais gente que, em vez de medidas de uma tecnicidade discutível,
clama por uma sensibilidade mais social, foi apenas Paulo Portas
quem, sem delongas que revelassem hesitação, explicou, em linguagem
comum, a razão de ser das medidas anunciadas por Passos Coelho e a,
ainda discutível, nova contribuição especial dos reformados nos
cortes para além da abominável CES, a desigualdade que o Tribunal
Constitucional instuticionalizou, considerando-a a fronteira que não
pode deixar ultrapassar.
Espero,
por isso, que esta “classe sem voz”, este “não parceiro
social” encontre em Portas o aliado que nem Gaspar, nem Passos e
nem o Tribunal Constitucional são.
Depois,
a declaração do cinismo do FMI e da União Europeia que não
traduzem, nas instruções que dão às suas “troikas”, os
princípios menos severos e mais solidários que propalam em seus
discursos públicos, tornando duros e difíceis os confrontos que o
Governo tem de travar nas negociações que faz, do que,
naturalmente, quase não pode dar conta, nem para se defender das
acusações da Oposição.
Finalmente,
Portas fez parecer que haverá, agora, um governo mais equilibrado em
sensibilidades, mais capaz de contestar as exigências que as
finanças sempre pretendem ditar, sem que da tal se possam inferir
tensões que possam por em risco a Coligação que, como Portas
também disse, não é uma fusão!
Esperemos
pelos resultados do que parece ser um novo equilíbrio de forças no
Governo, o que há muito deveria ter acontecido.
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