No
que escrevo, nunca me socorro, simplesmente, de opiniões ou de
ideias alheias para suportar o que diga sobre seja o que for. Não
significa isto que essas opiniões e ideias me não interessem, não
as oiça, não as considere, não as reflicta, pois é a partir delas
e mais do que sei, do que vejo e do que sinto que construo as que,
depois, passam a ser as minhas. E quantas vezes as corrijo em função
de novos conhecimentos com que o fluir da vida me confronta. Quantas
vezes se esfuma aquela que parecia perfeita e se encaixava à
maravilha na teoria que tinha construído... É a vida!
As
ideias são isto mesmo, o produto da reflexão sobre as percepções
que vamos tendo, pelo que não pode ser minha, simplesmente, a ideia
que outro criou.
Para
definir uma ideia e, depois, ter uma opinião ou, mesmo, construir
uma teoria, eu sinto, antes de mais, a necessidade de me convencer a
mim próprio. É este o momento mais complicado de uma reflexão que
seja feita com a seriedade que faz progredir o saber.
Nem
todos poderemos executar estes exercícios mentais ao nível dos
grandes pensadores, ao nível daqueles cujas ideias se constituem
marcos do conhecimento humano e sobre cuja solidez podemos construir
teorias que orientem os nossos procedimentos e nos inspirem novas
ideias. Mas todos podemos e devemos confrontar o que outros digam com
a nossa capacidade crítica, o filtro que terá de atravessar antes
de o tomar por bom e o considerar em ideias ou opiniões que, depois, sejam
também nossas.
Pensar
está ao alcance de qualquer um. Mas é bem mais difícil do que
adoptar ideias alheias, sobretudo as que mais nos convenham, em favor
de interesses ou de comodismos que, sejam quais forem, todos não
conseguimos evitar ter.
Por
isso me desencantam os “chavões” e as “palavras de ordem”
que se adoptam, repetidos até à exaustão, com a intenção
contrária à da reflexão que a verdade exige.
Fazem
isto os líderes políticos e sindicais, com técnicas que a
publicidade desenvolveu, mas nas quais a persuasão enganosa é
consentida e se faz passar por informação.
Um
pouco diferente é o que fazem os “comentadores” que em tempos de
normalidade quase desaparecem, mas que em tempos de crise se replicam
como cogumelos daninhos em meios escuros, húmidos e sem arejamento
que acabam por tornar fétidos.
São
uma peste que torna difícil a serenidade para a reflexão que a
resolução de problemas difíceis exige, porque contaminam os que em
vez de escutar atentamente para, depois, reflectir, preferem o
caminho fácil de escolher, entre as opiniões e as ideias alheias,
as que mais lhes convenham ou lhes sejam mais fáceis de assimilar.
É
isto que noto em comentários que, por vezes, fazem ao que escrevo
não para fazer escola mas para vazar o que me vai na alma, e citam,
simplesmente, o que diga este ou aquele nos comentários que, em
troco das vantagens que lhes tragam ou do que lhes paguem, têm de
fazer.
Assim
acontecem os “fazedores de opinião”, sejam políticos,
sindicalistas ou comentadores, que não precisam de explicar e muito
menos têm de provar o que digam.
E,
perante a pobreza de pensamento de que tantas vezes me dou conta, dou
comigo a perguntar para que teria Deus dado ao Homem a inteligência?
Para enganar e se deixar enganar?
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