Acabo de ler sobre as declarações
do sociólogo britânico Anthony Giddens nas Conferências do Estoril sobre
“Globalização e Desafios para a Democracia”, as quais mostram as suas
preocupações sobre o estado do mundo que diz nunca ter visto tão opaco.
Além de dizer que para os
economistas, actualmente, a única certeza que existe é a de “que as coisas vão
ser diferentes do que foram há 20 ou 30 anos”, Giddens também afirmou que “a
democracia está com problemas em todo o mundo e também nas áreas que costumavam
ser o ‘coração da democracia’”.
Refiro estas declarações por referirem questões que tenho abordado quer a
respeito dos equívocos de uma “economia” sem condições para continuar a
prosseguir os seus objectivos de crescimento contínuo quer a propósito de uma “democracia”
que se deixou ultrapassar pela realidade em que as coisas são como são e não
como as imaginamos ou gostaríamos que fossem.
Quanto aos economistas, eu vou mais longe quando digo que penso não estarem, na
generalidade, convencidos da impossibilidade de voltar ao passado, não o de há
20 ou 30 anos mas o mais próximo, de voltar à solução das “crises” com
montanhas de dinheiro que as sufoquem, mesmo quando vêem que tal prática já não
surte efeito.
Antes de poderem encontrar
soluções para os impasses que a “economia” enfrenta terão de entender como se
distanciam o dinheiro e o valor das coisas ao qual, pretensamente, corresponde,
porque assim inevitavelmente acontece se enquanto de um há a quantidade que
quisermos as outras se vão, naturalmente, esgotando.
Quanto à democracia que se baseia
no peso de maiorias que interesses seleccionados congregam, terá de passar a
prestar atenção à realidade, aquela que ambição alguma pode alterar. Não
adiantará, pois, continuar com os jogos de riqueza e de poder que esta
democracia permite jogar, mas agora já não sem consequências que, mais cedo ou mais tar,de acabarão
complicadas!
Tal como a visão dos economistas,
também a democracia terá de se actualizar porque, a não ser assim, não
conseguirá sobreviver numa “globalização” na qual, em nome de interesses económicos, se aceitam
procedimentos democraticamente reprováveis.
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