Compreendo perfeitamente o que
diz Manuela Ferreira Leite a propósito do Documento de Estratégia Orçamental do
governo – DEO – quando o considera um documento feito de pernas para o ar. De
facto, é uma prática assaz corrente, em trabalhos deste tipo, definir
objectivos e, depois, arranjar as coisas de modo a que tudo bata certo,
procedimento que, de todo, não posso considerar correcto. Feito assim, poderá
parecer a solução de um problema de momento, mas acabará por ser o grande problema
do futuro.
Neste caso e como diz Ferreira
Leite, os objectivos são os da Troika e os argumentos são os do ministro das
finanças que, com desilusão o digo, sobrecarrega os mais fracos sempre que,
mais uma vez, as contas não batem certo, em vez de fazer as reformas de fundo
que tardam e voltam a tardar, bem como reajustar as perspectivas do futuro com que
podemos contar.
Que “estamos a fazer sacrifícios
em nome de nada” é, também, uma verdade enquanto pensarmos que é possível
recuperar um modo de viver que as circunstâncias tornaram impossível, mas que
se tornará uma mentira quando percebermos que eles fazem parte do esforço de
ajustamento a que a realidade obriga.
Sendo a “pobreza” um conceito
relativo, não pode ser o termo de comparação adequado para avaliação do modo
como evolui este “ajustamento” que os críticos apontam como o caminho para o
desastre, porém sem apontarem, de um modo claro, a alternativa que o evitaria.
Talvez porque o não haja enquanto não tomarmos consciência do futuro que as
circunstâncias do mundo de hoje nos permitem.
É por isso que as críticas de
Manuela Ferreira Leite me parecem mais ditadas pela frustração de não ter
conseguido evitar ser ultrapassada no PSD do que o discurso positivo de futuro
de que necessitaríamos para, conscientemente, participarmos na construção do
melhor futuro possível, dando sentido aos sacrifícios que fazemos.
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