Cavaco Silva acabou por
convocar a reunião do Conselho de Estado que Marques Mendes previamente anunciou,
mas fê-lo de um modo subtil, definindo como tema a economia portuguesa
pós-troika, o que a maioria dos comentadores e fazedores de opinião criticam
dizendo não fazer sentido discutir o que ainda não aconteceu quando tanta coisa
importante está a acontecer!
Vejo nestas críticas
aquela pequena medida de capacidade que os nossos políticos revelam no seu péssimo
hábito de escolher caminhos sem definir o destino. De facto, os políticos
portugueses que um processo de alteração de regime acabou por gerar são incompetentes
porque pouco conseguem ver para além da ponta dos seus narizes.
Se não vejo como fugir a
este processo de ajustamento à realidade a que esta política de austeridade
conduz, ainda que o devesse ser de um modo menos violento, também não vejo como
poderemos fugir à reflexão sobre o que faremos depois. Se é que temos a intenção de fazer alguma coisa...
Pois eu acho que pensar o
futuro seria a melhor maneira de utilizar o tempo que agora gastamos a discutir
minudências, a dizer disparates e a disputar o poder, além de ser a melhor forma de decidir, com sentido, no presente.
Poderá até acontecer que
esta reunião do CE não passe de um chá que o Presidente decidiu oferecer aos
conselheiros, como um comentador diz que será e como outras o terão sido também, porque nada de jeito tem saído
delas.
Não discuto, também, a
qualidade da presidência de Cavaco Silva, mesmo se, muitas vezes, me pareceu
estar bem longe da que necessitaríamos.
É, pois, natural, que o tema
anunciado não passe de uma subtileza porque, quase certamente, o Conselho não
resistirá às tricas do que se passa, ao confronto entre os que querem assaltar
o poder e os outros que o detêm, seja no país ou dentro dos próprios partidos. O que, permanentemente, fazem em palhaçadas de péssimo gosto.
Mas que pensar o futuro,
procurar o sentido para os sacrifícios que teremos ainda de fazer e para a nova vida
a que teremos de nos habituar, é aquilo que, neste momento, mais se impõe, disso
não tenho a menor dúvida! Assim o Conselho de Estado o soubesse discutir para
que não continuássemos a escrever música sem pauta!
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