Há muito tempo já, era eu adjunto
de um Primeiro-Ministro que me disse assim “estou muito mais preocupado com a
cultura democrática que se venha a instalar em Portugal do que com a pequena economia
que temos porque, menor do que a de qualquer Estado norte-americano, depressa
se conserta se, para isso, houver os indispensáveis consensos”.
Há pouco reparei que, numa
entrevista a uma revista luso-espanhola, Alexandre Soares dos Santos disse precisamente
o mesmo, para além de outras verdades como a que me parece um réquiem por uma
União Europeia que nasceu de um ideal que não foi prosseguido, por ambição se
entortou e talvez nunca mais se endireite. Os interesses nacionais prevalecem
sobre os europeus e a Alemanha nunca perderá o seu jeito de ambição dominadora
que lhe não permite corresponder à ajuda que teve para se reerguer, depois de
se destruir e quase destruir a Europa inteira!
Entre estas duas declarações
iguais decorrem cerca de quarenta anos ao longo dos quais eu verifico que a “cultura
democrática” que se instalou não é a que aquele Primeiro-Ministro gostaria que
se tivesse desenvolvido, fazendo-me lembrar mais a de um recém chegado a um meio
desconhecido onde não sabe como comportar-se ou, visto de outro modo, uma rixa de
miúdos que, em alvoroço, disputam o naco e depois nem sabem o que fazer com
ele.
E a lição a tirar é que é sempre
maior o sacrifício quando não há entreajuda e maior, também, a destruição
quando há guerra.
Achei que devia registar aqui o
que dois homens inteligentes entenderam e disseram de uma situação e de
atitudes que podem dar gozo a muita gente, mas a muita mais gente fazem sofrer.
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