“O projecto de comunicado que o Presidente da República levava para o
Conselho de Estado continha um ponto que ficou pelo caminho.
Cavaco
Silva gostaria que o documento resultante da reunião de segunda-feira plasmasse,
de alguma forma, o consenso das mais altas instituições do Estado, do principal
partido da oposição e dos “senadores” políticos quanto aos compromissos que
Portugal terá de assumir no futuro, mesmo depois do programa de assistência
económica e financeira. Mas falhou esta declaração de compromisso, sobretudo
devido à oposição do secretário-geral do PS e de conselheiros mais à esquerda.”
Esta notícia que leio no Público
é a prova iniludível do conflito esquerda-direita que, mesmo sem fazer já qualquer
sentido nas circunstâncias actuais, recrudesceu para níveis elevados de
incompreensão do que sejam os verdadeiros problemas de Portugal e do mundo.
Já se não trata de
ideologias como as que deram origem àquelas designações na Revolução Francesa
ou de outras que se seguiram e chegaram a dividir o mundo em blocos perigosamente
antagónicos, dos quais o tempo mostrou o irrealismo.
Trata-se, antes de mais,
da falta de entendimento de uma realidade bem diferente que se não compadece
com certos idealismos que nela não conseguem arrumar-se. Não podem as
circunstâncias mudar tanto como mudaram e a forma de querer viver a vida
manter-se tal como era em tempos de vacas gordas. Hoje enfrentamos problemas
resultantes de alterações profundas no Ambiente e de exiguidade de recursos,
ambos numa rota acelerada de descalabro, os quais não permitem as soluções de
outros tempos, quando erros se tapavam com outros erros ainda maiores porque
havia recursos suficientes para esbanjar e ignorância bastante para aceitar
tais soluções.
Por isso, nem “direita”
nem “esquerda” fazem as leituras adequadas desta situação do mundo, para cuja
observação e esclarecimento as lutas que travam pelo poder lhes não deixam
tempo.
A “política” envelheceu,
estagnou e desactualizou-se em conceitos e objectivos que estão ultrapassados
ou se tornaram impossíveis. Não evoluiu em conformidade com o conhecimento
científico que se foi tendo do mundo e não reparou, por isso, que terá de
adoptar novas formas de com isso conviver.
A grande verdade é que,
leve o tempo que levar, mas que será sempre pouco, acabaremos por ter de
aprender a viver com a exiguidade perene, a tirar o maior partido do que a
Natureza nos dê, sem tentar alterar os seus ritmos de renovação. Quer isto
dizer que a “inteligência” humana terá de despertar para a realidade que a “esperteza”
da sua ambição não consegue ver.
As lutas a travar no
presente são bem diferentes daquelas que separaram a “direita” da “esquerda” e
até permitiram radicalismos que sempre são os extremos da estupidez, como a História
nos ensina.
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