ACORDO ORTOGRÁFICO

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quarta-feira, 22 de maio de 2013

QUANDO A IGNORÂNCIA IMPERA



O projecto de comunicado que o Presidente da República levava para o Conselho de Estado continha um ponto que ficou pelo caminho.
Cavaco Silva gostaria que o documento resultante da reunião de segunda-feira plasmasse, de alguma forma, o consenso das mais altas instituições do Estado, do principal partido da oposição e dos “senadores” políticos quanto aos compromissos que Portugal terá de assumir no futuro, mesmo depois do programa de assistência económica e financeira. Mas falhou esta declaração de compromisso, sobretudo devido à oposição do secretário-geral do PS e de conselheiros mais à esquerda.”

Esta notícia que leio no Público é a prova iniludível do conflito esquerda-direita que, mesmo sem fazer já qualquer sentido nas circunstâncias actuais, recrudesceu para níveis elevados de incompreensão do que sejam os verdadeiros problemas de Portugal e do mundo.
Já se não trata de ideologias como as que deram origem àquelas designações na Revolução Francesa ou de outras que se seguiram e chegaram a dividir o mundo em blocos perigosamente antagónicos, dos quais o tempo mostrou o irrealismo.
Trata-se, antes de mais, da falta de entendimento de uma realidade bem diferente que se não compadece com certos idealismos que nela não conseguem arrumar-se. Não podem as circunstâncias mudar tanto como mudaram e a forma de querer viver a vida manter-se tal como era em tempos de vacas gordas. Hoje enfrentamos problemas resultantes de alterações profundas no Ambiente e de exiguidade de recursos, ambos numa rota acelerada de descalabro, os quais não permitem as soluções de outros tempos, quando erros se tapavam com outros erros ainda maiores porque havia recursos suficientes para esbanjar e ignorância bastante para aceitar tais soluções.
Por isso, nem “direita” nem “esquerda” fazem as leituras adequadas desta situação do mundo, para cuja observação e esclarecimento as lutas que travam pelo poder lhes não deixam tempo.
A “política” envelheceu, estagnou e desactualizou-se em conceitos e objectivos que estão ultrapassados ou se tornaram impossíveis. Não evoluiu em conformidade com o conhecimento científico que se foi tendo do mundo e não reparou, por isso, que terá de adoptar novas formas de com isso conviver.
A grande verdade é que, leve o tempo que levar, mas que será sempre pouco, acabaremos por ter de aprender a viver com a exiguidade perene, a tirar o maior partido do que a Natureza nos dê, sem tentar alterar os seus ritmos de renovação. Quer isto dizer que a “inteligência” humana terá de despertar para a realidade que a “esperteza” da sua ambição não consegue ver.
As lutas a travar no presente são bem diferentes daquelas que separaram a “direita” da “esquerda” e até permitiram radicalismos que sempre são os extremos da estupidez, como a História nos ensina.

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