ACORDO ORTOGRÁFICO

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quinta-feira, 16 de maio de 2013

HIPOCRISIAS

Quando as “economias ocidentais” começaram a desfazer-se das suas indústrias, transferindo-as para países da Ásia onde encontravam muito menores preços de produção, estavam longe de saber como, um dia, veriam a questão de outro modo porque lhes fariam falta para absorver os trabalhadores que, inevitavelmente, acabariam por cair no desemprego.
Impõem, a si próprias, remunerações e condições de trabalho que outras não respeitam, tirando partido do quase trabalho escravo que elas consentem. Por isso lhas não impuseram, também, como condição para lhes comprar.
A braços com uma crise que em vez de ser vencida parece estar a vencer, começa a Europa a pensar na sua reindustrialização e a olhar melhor para o que sucede nesses países dos quais tem comprado as dores das suas gentes.
Há dias, soubemos do enorme acidente que foi a queda de um grande edifício no Bangla Desh, onde estava instalada uma fábrica de roupas, daquelas que se podem comprar baratas nos “chineses” e até em lojas de marcas, a preços que não permitem, a qualquer indústria que tenha de respeitar as regras da segurança no trabalho e pagar os salários legais, quaisquer hipóteses de competição. Morreram muitas das pessoas que ali trabalhavam, mortes que nos devem pesar na consciência quando não contrapomos exigências de segurança e de dignidade nos acordos comerciais que fazemos.
Agora, é o tecto de uma fábrica que produz ténis da Asics, no Cambodja, que cai em cima dos trabalhadores, matando alguns deles e ferindo quase todos!
Quantos acidentes destes não para se dedicar aos trabalhos mais próprios para gurus disto e daquilo, mas talvez nunca do que para viver com dignidade seja o mais preciso.
Ontem, finalmente, a Europa decidiu impor taxas na importação de porcelanas chinesas que vêm fazendo concorrência desleal às indústrias europeias, sobretudo portuguesas, com a prática de preços inferiores aos de produção. O famoso “dumping” que as regras de concorrência europeias não consentem. Não acreditando que os industriais chineses se conformem com as perdas que tál prática provoca, é fácil concluir nos ombros de quem elas cairão, em salários miseráveis e condições de trabalho desumanas.
Mas por que razão esta situação se terá gerado? Será porque as potencialidades dos imensos mercados orientais, com milhares de milhões de consumidores terão despertado a cobiça da “economia ocidental” que precisa de escoar o que produz para continuar a crescer?
Entre nós, dos variados casos em que fomos vítimas de tais práticas de desindustrialização, bastará citar a razia nos texteis portugueses que, de uma actividade que ocupava muitas dezenas de milhares de trabalhadores, passou a uma actividade residual e com pouca expressão.
Do que foi a prosperidade do Vale do Ave, por exemplo, já poucos se recordarão...

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