Quando
as “economias ocidentais” começaram a desfazer-se das suas
indústrias, transferindo-as para países da Ásia onde encontravam
muito menores preços de produção, estavam longe de saber como, um
dia, veriam a questão de outro modo porque lhes fariam falta para
absorver os trabalhadores que, inevitavelmente, acabariam por cair no
desemprego.
Impõem,
a si próprias, remunerações e condições de trabalho que outras
não respeitam, tirando partido do quase trabalho escravo que
elas consentem. Por isso lhas não impuseram, também, como condição
para lhes comprar.
A
braços com uma crise que em vez de ser vencida parece estar a
vencer, começa a Europa a pensar na sua reindustrialização e a
olhar melhor para o que sucede nesses países dos quais tem comprado
as dores das suas gentes.
Há
dias, soubemos do enorme acidente que foi a queda de um grande
edifício no Bangla Desh, onde estava instalada uma fábrica de
roupas, daquelas que se podem comprar baratas nos “chineses” e até em lojas de marcas, a preços que não permitem, a qualquer indústria
que tenha de respeitar as regras da segurança no trabalho e pagar os
salários legais, quaisquer hipóteses de competição. Morreram
muitas das pessoas que ali trabalhavam, mortes que nos devem pesar na
consciência quando não contrapomos exigências de segurança e de
dignidade nos acordos comerciais que fazemos.
Agora,
é o tecto de uma fábrica que produz ténis da Asics, no Cambodja,
que cai em cima dos trabalhadores, matando alguns deles e ferindo
quase todos!
Quantos
acidentes destes não para se dedicar aos trabalhos mais próprios para gurus disto e
daquilo, mas talvez nunca do que para viver com dignidade seja o mais
preciso.
Ontem,
finalmente, a Europa decidiu impor taxas na importação de
porcelanas chinesas que vêm fazendo concorrência desleal às
indústrias europeias, sobretudo portuguesas, com a prática de
preços inferiores aos de produção. O famoso “dumping” que as
regras de concorrência europeias não consentem. Não acreditando
que os industriais chineses se conformem com as perdas que tál
prática provoca, é fácil concluir nos ombros de quem elas cairão,
em salários miseráveis e condições de trabalho desumanas.
Mas
por que razão esta situação se terá gerado? Será porque as
potencialidades dos imensos mercados orientais, com milhares de
milhões de consumidores terão despertado a cobiça da “economia
ocidental” que precisa de escoar o que produz para continuar a
crescer?
Entre
nós, dos variados casos em que fomos vítimas de tais práticas de
desindustrialização, bastará citar a razia nos texteis portugueses
que, de uma actividade que ocupava muitas dezenas de milhares de
trabalhadores, passou a uma actividade residual e com pouca
expressão.
Do que foi a prosperidade do Vale do Ave, por exemplo, já poucos se recordarão...
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